Na última postagem conhecemos a grande evolução que a computação gráfica obteve na década de 1980. Vimos como os games e o cinema souberam utilizar dessa tecnologia para o próprio crescimento. No caso do cinema, a indústria cinematográfica conseguiu aprimorar e moldar essa tecnologia, que permitiu unificar a linguagem computacional com a cinematográfica. O animador se torna essencial nesse momento, pois o mesmo precisa adaptar suas habilidades e conhecimentos da animação tradicional para o desenvolvimento de novas ferramentas e até mesmo técnicas computacionais. Nesta parte do artigo iremos abordar sobre a importância da figura do animador John Lasseter para a adesão destas linguagens. E como a Pixar conseguiu inovar com suas primeiras animações computadorizadas.
John Lasseter |
A história e importância de John Lasseter começa quando o mesmo trabalhou como animador na Disney e logo depois no departamento digital da LucasFilm que também realizava parte dos efeitos visuais da Industrial Light and Magic (ILM). A divisão de computação da LucasFilm construiu um sistema de animação que nomearam de Pixar Image Computer.
The adventures of Andre and Wally B. (1984)
O primeiro projeto de animação computadorizada que John Lasseter trabalhou foi “The Adventures of Andre and Wally B.” (1984). O animador propôs que ao invés de utilizarem personagens robóticos, o filme poderia ter um visual mais próximo ao cartum, design nunca antes feito na computação gráfica. Inclusive o próprio personagem Andre teve parte do design inspirado em Mickey Mouse. O filme tem pouco menos que dois minutos, apresenta uma história bastante banal com um simples conto de vingança e personagens que destoam do cenário criado. O principal motivo da exibição despretensiosa do curta-metragem era dar a devida visibilidade às tecnologias computacionais desenvolvidas na Lucasfilm. Contudo, apresentou uma animação fluida, sem a dureza mecânica das animações produzidas antes e era nítido a expressão dos personagens.
John Lasseter e Steve Jobs |
A experiência adquirida na LucasFilm, mostrou a Lasseter que por mais que as imagens e animações ficavam mais complexas e ambiciosas, o resultado final ainda apresentava estética bastante mecanizada. As conquistas expressivas e reações provocadas pela exibição do primeiro projeto de filme animado, levaram John a apurar seu entendimento dos princípios de animação no ambiente da computação gráfica 3D. Mais tarde John Lasseter apresentou um trabalho que explicava como os princípios fundamentais da animação poderiam ser adaptados à animação computadorizada 3D. John Lasseter ajudou a animação 3D a desenvolver sua própria linguagem ao introduzir as técnicas de animação tradicional, soube combinar a técnica com a tecnologia.
Antiga logo da Pixar |
Enquanto isso, o sistema de animação Pixar Image Computer passou-se a se chamar apenas de Pixar, e em 1986, a divisão de computação da LucasFilm foi desmembrada e passou a funcionar como empresa independente. A Pixar foi o estúdio criado em 1986 por Steve Jobs, o diretor-geral da Apple e hoje é a empresa mais importante desta área (em breve abordaremos mais sobre a empresa no História do Cinema de Animação). Se antes da Pixar e de John Lasseter as animações computadorizadas 3D conseguiam trazer vida a personagens sem expressão gráfica (pequenos animais, robôs e objetos) construídos apenas com a junção de formas geométricas (esferas, cones, cubos e cilindros) apresentando movimentos duros e mecânicos. O curta "Luxo Jr." (1986) foi a ruptura histórica para a história do cinema de animação.
Luxo Jr. (1986)
O curta "Luxo Jr." de dois minutos impressionou os artistas e público, pois apresentava algo nunca antes visto na animação digital – um movimento orgânico e sutil das personagens. O pequeno filme não apresentava tecnologias inovadoras, mas demonstrava muito bem a aplicação dos princípios da animação clássica na animação digital. Luxo Jr foi o pioneiro, na representação mecânica precisa, realista e um design distinto. Além disso, o curta se destaca pela junção perfeita de cenários e personagens. E por mais curta e simples que seja sua narrativa, o filme apresenta personagens com personalidades distintas. Ao propiciar vida a duas lâmpadas de luxo, o Luxo Jr. demonstra a relação afetuosa entre o pai racional e o filho imprudente e agitado. Nesse sentido, podemos comparar o trabalho de John Lasseter ao próprio esforço de Walt Disney e Max Fleischer, na tentativa de conseguirem expressão de personalidade com a mera manipulação de objetos nos primórdios da história da animação tradicional.
A nova logo depois do reconhecimento de Luxo Jr.
Luxo Jr. foi o primeiro filme de computação gráfica a obter reconhecimento fora da comunidade de computação gráfica, sendo aclamado por críticos e artistas. Sua importância é tão importante para a própria Pixar, que o curta-metragem acabou gerando o logotipo tão conhecido da empresa. O sucesso e a comoção que Luxo Jr. causou tanto para a indústria de computação gráfica quanto para a cinematográfica, levou a Pixar e John Lasseter a produzir outro aclamado curta-metragem utilizando a animação computadorizada.
Tin Toy (1988)
O curta-metragem "Tin Toy" (1988) se destacou não apenas por apresentar a fluidez de movimento, mas também por apresentar um personagem humano digitalmente animado com características e movimentos realistas. O pequeno filme foi agraciado com o Oscar de melhor curta-metragem de animação. Além disso, o curta serviu como inspiração para uma produção ainda mais grandiosa pela Pixar, o primeiro longa-metragem de animação computadoriza.
No próximo artigo vamos conhecer mais sobre o amadurecimento da computação gráfica na década de 1990 e a produção de Toy Story (1995) o primeiro filme animado utilizando a animação computadorizada.
No próximo artigo vamos conhecer mais sobre o amadurecimento da computação gráfica na década de 1990 e a produção de Toy Story (1995) o primeiro filme animado utilizando a animação computadorizada.