8 de setembro de 2018

Blender 2.8!

O meu primeiro artigo para este site foi falando de Blender. Muito tempo se passou e este maravilhoso software foi evoluindo exponencialmente.

 
Mas agora a nova revolução vem mostrando os seus primeiros raios de alvorada. Durante 3 meses os principais desenvolvedores deste software se juntaram em Amsterdã na sede da Blender Foundation para praticamente refazer o software do zero! Foi um trabalho muito intenso que eles chamaram esta reunião de Code Quest.

O resultado desta empreitada será mostrado neste artigo.

Eevee
 
O primeiro grande recurso é a substituição do Blender Render pela Eevee um renderizador em tempo real que segue a tendência PBR (Physically Based Rendering) da indústria de jogos, suportando gráficos de alta qualidade acoplados a uma janela de visualização responsiva em tempo real.


Com este novo renderizador, é possível criar luzes mais fotorrealísticas e sombras muito mais suaves.



Os materiais ganharam recurso de shaders Uber seguindo os materiais Unreal Engine 4 PBR. Tornando muito mais fácil o processo de criação de materiais e texturas complexas.


Agora podemos iluminar cenas com imagens HDRI em tempo real, fazendo com que os objetos da cena se influenciem mutuamente (reflexos, luz difusa, etc.).


Além de todos estes recursos, temos Motion Blur, Bloom, Tone Map, Depth of Field, Ground Truth, Ambient Occlusion, tudo isto em tempo real!

Grease Pencil

A ferramenta Grease Pencil inicialmente no projeto Blender foi criada para fazer anotações. Mas com o passar do tempo os animadores 2d começaram a utilizar este recurso. Pensando nisto a equipe do Code Quest resolveu desenvolver mais recursos na versão 2.8, fazendo com que o animador 2D ganhasse mais uma ferramenta poderosa.



Com o conjunto de novos pinceis, é possível fazer praticamente qualquer tipo de animação 2D diretamente na viewport do Blender.




Na versão 2.7, os desenvolvedores inseriram uma paleta de cores para que os animadores 2D pudessem pintar seus projetos. Mas agora eles viram que as cores Grease Pencil são muito mais complexas do que uma cor simples. Com isto eles trocaram a Palettes para Materials. Agora as cores funcionam da mesma maneira que qualquer outro material no Blender, com configurações adicionais exclusivas para Grease Pencil.


Um novo design de visualização foi criado especialmente para mostrar os recursos do Grease Pencil.

Essa visualização também é usada para selecionar o material atribuído ao pincel.

Além disto foi criado uma série de modificadores específicos para o Grease Pencil.




Nova Game Engine


Infelizmente (ou felizmente) na versão 2.8 damos adeus a Blender Game Engine, por motivos mais que compreensíveis, os recursos da BGE estavam obsoletos demais para acompanhar a demanda do mercado, além do fato de adaptá-la para os recursos da Eevee seria uma tarefa muito árdua e o resultado final não ficaria satisfatório. Então a decisão mais sábia foi "aposentá-la".



Muito pouco se sabe ainda deste recurso, o mais próximo é uma pequena demonstração de geração de partículas mostradas no vídeo acima, pois o projeto ainda esta em fase muito inicial.

Sabemos a princípio de quem vai liderar o projeto é o desenvolvedor Benoit Bolsee, e que o novo recurso se chama Interactive Mode.

 
Os blocos lógicos serão substituídos por nodes, igual ao sistema de composição e o sistema de materiais.

Os desenvolvedores vão usar como referencia motores de jogos tais como Unity, UPBGE, Blen4Web e Armory 3D para estruturar o seu novo motor de jogos. Trocando em miúdos, podemos esperar uma super ferramenta vindo por aí!

Mas para você que não vive sem um motor de jogos dentro do seu Blender, não se desespere pois basta baixar todos estes motores citados acima (menos a Unity), e instalar no seu software 3D favorito e seja feliz!

Outras novidades
Muitos outros recursos estão sendo implementados no novo Blender, um dos mais significativos são os novos recursos da Viewport.




Novo Shader de Cabelo



Suporte a luzes IES no Cycles



E muitos outros! Mais uma vez a Blender Foundation sai na frente e faz com que seu software supere ainda mais a concorrência!

Outa notícia muito legal é que quem coordenou toda a equipe de desenvolvimento da versão 2.8 foi um Brasileiro, o nome dele é Dalai Felinto.


Arquiteto formado pela UFF, começou sua carreira no Blender desenvolvendo o algorítimo que renderizava os jogos e as animações para domos de imersão.

 
Além disto foi um dos autores do livro Game Development with Blender pela editora Cengage Learning PTR


O mais legal que ele vai estar na edição de 10 anos do GNUGRAF que acontecerá dias 14 e 15 de Setembro dentro do próprio campus da ESDI, Rua do Passeio, 80 – Centro – Rio de Janeiro em frente ao Passeio Público e ao lado da escola de música da UFRJ. As palestras e oficinas são totalmente GRATUITAS. Detalhes neste link!

Gostou!? Quer experimentas o novo Blender!? Então não perca tempo e baixe a versão teste neste link.

Não sabe mexer no Blender? Gostaria de aprender? O que acha de ter aula com este que vos escreve?

Durante os dias 06/10 e 13/10 das 09h às 18h, estarei ministrando um curso essencial de Blender na EDX Coworking

Av. Rio Branco 124, Centro, Salas 1002 e 1102 – Rio de Janeiro

Maiores detalhes neste link.

Bem, por enquanto estas são todas as novidades!
Até a próxima!

21 de maio de 2018

Thundercats e o esvaziamento do debate pelo conflito de gerações


Nunca me esqueço do quanto ouvi nas décadas de 80 e 90, quando meus pais passavam pela TV enquanto eu assistia calmo e tranquilamente a um desenho animado, uma severa crítica a péssima qualidade daqueles desenhos animados que eram produzidos. Desenhos parados! sem movimento! Não era como na época deles que os desenhos respiravam.

Talvez ali, sem querer, meus pais começavam a plantar na minha cabeça essa semente investigativa que tenho sobre o universo da animação. E praticamente uns 20 anos depois eu entendia que eles se referiam aos desenhos clássicos das décadas de 30 e 40, quando o reinava o famoso dodecálogo de Thomas e Johnson nos estúdios Disney e seus modelos copiados para os demais estúdios de animação norte americanos. Ou seja, a animação como a ilusão da vida, o primor dos movimentos produzidos quadro a quadro naquilo que iremos chamar de Full Animation.

O problema é que, a partir dos anos 1950, não valia mais a pena para as grandes produtoras investirem em animação para o cinema (Curtas Disney, Tom e Jerry, Looney Tunes foram originalmente criados para a telona) e a TV pedia um método de produção mais ágil e mais barato. Restava então apelar ao método UPA de animação que, apesar de ser uma proposta artística, era de fato mais economicamente viável. Começam a pipocar as animações limitadas com personagens mais parados, criados com formas mais geometrizadas, tudo para agilizar a produção. Foram 10 anos de trevas até resurgir a dupla Hanna-Barbera que sabiamente saberia pegar o que aprenderam na escola antiga e adaptar aos novos tempos. Mesmo assim aquela geração que curtiu Tom e Jerry no cinema fez cara feia a novidade.

Curiosamente hoje muitos comentam do Tom e Jerry das décadas de 40, 50 que foram animados por Hanna, Barbera, Tex Avery, Fred Quimby e Chucky Jones e sempre comparando com sua produção para a TV que passaram ainda pela MGM e pelos estúdios Hanna Barbera se referindo aos mais atuais como o Tom e Jerry "Toscão" e aos antigos como Tom e Jerry "de verdade" e isso independe das gerações.

Agora a internet entra numa nova briga colocando, na minha opinião de forma equívocada, aqueles que criticam o novo desenho dos Thundercats a uma questão meramente geracional. E defendendo com unhas e dentes que esta não deve ser uma preocupação de quem não é parte do público alvo da série. Porque é fácil provar a defesa de uma tese classificando e rotulando as demais de forma pejorativa. E assim os robozinhos algorítmicos do Face vão alimentando cada vez mais essas bolhas sociais.

Em seus Escritos Corsários, o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini no seu tratado pedagógico intitulado "Gennariello: a linguagem pedagógica das coisas" aponta para a questão geracional deixando claro que muitas vezes elas tem uma certa dificuldade de diálogo.

Agora não posso te ensinar as 'coisas' que me educaram, e você não pode ensinar as
'coisas' que estão te educando. Não podemos ensiná-las um ao outro pela simples razão
de que sua natureza não se limitou a mudar algumas das suas qualidades, mas mudou
radicalmente sua totalidade” (Pasolini, 1990, p.132)

E assim, tendo introduzido esse assunto, deixando claro que é fácil rotular as coisas ao "no meu tempo era melhor" coloco aquilo que parece ser uma preocupação legítima de uma geração que viu os Thundercats nas décadas de 80 e 90: a tendência a descaracterização dos personagens. Não é apenas uma questão estética. Trata-se de uma alteração em nome de uma modernização. Em alguns funciona perfeitamente. A passagem dos personagens do Universo Marvel e DC ao longo das décadas (tirando novos 52 por favor :D ) e agora o caso Marvel para o Cinema é perfeita nesse aspecto. Muito dos personagens foi mudado, no entando muito de sua essência principal permaneceu.

No entanto, na DC temos um caso que chama atenção que são os Jovens Titãs em Ação. Ali não se tratou apenas de fazer os personagens mais fofos. Tornaram os meninos totalmente Non Sense. E não é o nonsense que o Keith Giffen e o Kevin Maguire fizeram com a Liga nos quadrinhos nos anos 1980. É um esvaziamento total de sentido dos personagens. Virou uma mistura de Sitcom de super heróis onde o que menos importa é o cumprimento das missões e a jornada de cada um. Pastelão puro e simples. Nem mesmo o Freakazoid de Spilberg era assim. Thundercats Roar parece seguir mais essa linha do que Steven Universe, Hora da Aventura, Apenas um Show ou Irmão do Jorel.

Ah, mas isso não são os Thundercats da sua geração! É hora de entender que estes são os da nova! Precisamos Crescer. 

Apenas pare amigo. Minha geração cresceu vendo desenhos que tinham como objetivo o mero consumo de bonecos: He-Man, She-Ra, Transformers, Comandos em Ação. Esse comportamento teve suas consequências. Só que nessa época não se tinha preocupação alguma dessa influência sobre o público infantil. Hoje essa discussão tem amadurecido. Então não é hora de deixar soltar a corda porque a geração mais velha hoje quer participar e discutir o que será produzido para as gerações futuras. E Sim! teremos dificuldades em achar um ponto em comum. Pasolini já previu isso como eu disse acima. Mas as redes são um espaço onde devemos apreciar e colocar o debate das ideias e aprender a não rotular o pensamento oposto.

É interessante começar a reflexão sobre personagens terem seu conteúdo esvaziado. Não é só pensar nas nuances de roteiro ou design das personagens. Teen Titans, Mickey e alguns outros passaram por essa mudança que parece começar a ser uma tendência. Por isso vale ligar um sinal amarelo (não para censurar mas para discutir e debater). Aprendamos a crescer juntos nesse debate ao invés de reduzir tudo a "o meu é mais legal que o seu" e "você está fora de moda".

O que de fato significa essa tendência? Qual é verdadeiramente a releitura desses personagens? Porque isso gera mais audiência? Do que esse esvaziamento de sentido de personagens consagrados é reflexo exatamente? E que outros reflexos serão gerados desse tipo (se é que o serão)? Essas são apenas algumas perguntas que devem ser levadas em consideração. Mas é claro, para isso, antes de pensar a série, precisamos ver. Até aqui tudo que se falou de Thundercats Roar é mera especulação. Pode ser que toda essa discussão seja em vão e seja apenas o caso estético.

Mas podemos aproveitar o debate gerado e falar dentro do que já temos como Teen Titans e os novos curtas do Mickey! Apenas não paremos no rótulo e sigamos em frente!