21 de julho de 2021

Space Jam - o Legado é Uma homenagem da Warner ao audiovisual

Atenção: Contém Spoilers

Quando a Warner lançou o primeiro teaser de Space Jam - um novo legado eu cheguei a levantar suspeitas sobre a nova produção. E fiz coro, junto com muitos outros, que dificilmente seria uma boa história quando comparado ao seu predecessor, onde tínhamos um fato real da vida de Michael Jordan misturado a uma situação lunática com Pernalonga e companhia. (para saber mais sobre isso clique aqui)

E aparentemente a crítica aponta este como um dos pontos negativos da atual aventura de Lebron James e os Looney Tunes, reduzindo a produção a mais um filme mais enlatado e que poderia ter sua ideia melhor elaborada. 

Mas a verdade é que, na minha humilde opinião, a crítica não entendeu a proposta do novo Space Jam (como aliás ironicamente a própria Warner várias vezes já fez com várias de suas próprias produções).

Não se trata apenas de um reboot regado com fanservice da melhor qualidade. É algo que fala mais. É uma homenagem ao próprio legado histórico da Warner Bros em todos os seus seguimentos, com uma forma que usa e abusa da metalinguagem. 

Al-G Rhythm e Dom

A história vai trabalhar a relação de Lebron com seu filho Dom (nome fictício para o filho do atleta) , suas expectativas e vivências  enquanto paralelamente uma inteligência artificial está planejando caminhos de sucesso para os Estúdios Warner. Diante da recusa da ideia de Lebron em participar da proposta de sua ideia, o "vilão" Al-G Rhythm (Inteligência Artificial interpretada por Don Cheadle) resolve sequestrar seu filho e levar ambos aos servidores da Warner, desafiando LeBron a uma partida de basquete. Daí em diante, o astro da NBA tem 24 horas pra recrutar o melhor time possível para esta batalha contra os personagens que foram desenvolvidos pelo seu próprio filho. E a jornada começa junto com o próprio Pernalonga que está vivendo sozinho no mundo dos Looney Tunes ja que Al-G dispersou os demais personagens pelo "Warnerverso".

Neste ponto o filme apresenta, em ambas as situações, o já tão conhecido conflito de gerações. Lebron gosta de basquete enquanto Dom quer ser Game Designer; Al-G Rhythm quer dominar a produção audiovisual com sua visão que critica uma Warner velha e ultrapassada, com pouca criatividade.

E é aqui que todas as referências que aparecem vão muito além de um simples fan service. Quando Space Jam fala de "um novo legado" ele nos convida a rever o legado deixado pela própria Warner. Não são simplesmente os sucessos da WB que aparecem, mas sim seus marcos históricos. Por isso as referências fortes a filmes e séries dos mais antigos como Casablanca, Laranja Mecânica, Star Trek, King Kong até o recente Game Of Thrones sem deixar de falar de outras produções não tão antigas quanto o Máscara,  Matrix, o próprio Space Jam anterior e muitos outros.

E no mundo da animação, as homenagens também foram os marcos históricos que hoje estão sob a tutela da Warner. Além dos próprios Looney Tunes, temos o Gigante de Ferro, o Universo Hannah Barbera e a DC animada por Bruce Tim. Não foram escolhas feitas a esmo. São referências históricas que carregam todo um legado da WB para o Cinema e a TV.

Ainda destaco da importância de, em pleno 2021, termos um trabalho primoroso de animação tradicional feito para a grande tela, e que traz, mais uma vez, a discussão do conflito geracional e tecnológico (ou você não pegou que foi essa a mensagem de "Isso significa guerra" quando Alg trasforma os Looney Tunes em 3D?). Space Jam demonstra como é possível juntar a animação tradicional com as novas tecnologias e representações digitais deixando claro que esta não é uma arte esquecida e que deve ser mais valorizada (Aliás, vocês notaram como a animação tradicional salvou a atuação do Lebron?). 

E é esse o ponto que, ao meu ver, Space Jam apresenta como um "Novo Legado". Não é um filme só pra nova geração (porque não faria sentido ter Laranja Mecânica e Casablanca como referências) também não é algo só para os mais velhos saudosos do old school. (tem Game Of Thrones, tem IT, tem especiais fantásticos). Não é só o mundo digital e não é só o mundo analógico. É o equilibrio. É um filme que ajuda a estabelecer um diálogo. Tanto o é que, este editor aqui, com seus 40 anos não só curtiu como fez questão de ver o filme acompanhado de uma menininha de 5 e que também adorou o filme.

Para os demais críticos, eu não sei. Para este ensaísta, professor e animador, o filme fez muito bem seu papel.  Obrigado Warner. E que venham outras boas idéias. (Sendo elas humanas ou não.)

Veja mais: A História dos Looney Tunes