Gabriel Cruz
Luiz Felipe Vasques
Na apresentação do Oscar 2015, o ator Dwayne Johnson se referiu à Animação como sendo um 'gênero'. Tal afirmação gerou um pequeno frisson nas redes sociais por parte de animadores e produtores de animação.
É bem verdade, que esse frisson aconteceu mais nos blogs e perfis norte-americanos Como por exemplo, o Cartoon Brew. Pouco se falou do caso aqui no Brasil.
Mas qual é a importância disso tudo? e qual é o problema de chamar a Animação de Gênero Cinematográfico? Para discutir um pouco mais sobre o assunto nós do Animação S.A. convidamos alguns animadores e pesquisadores da área da Animação para falar sobre o assunto
César Coelho |
Para César Coelho, diretor de animação e um dos fundadores do Festival Anima Mundi, a discussão é interessante por desvendar no seu bojo a discriminação que a Animação sofre.
"Alguns autores definem gênero como drama, comédia, horror, policial, etc. e aí incluem animação como gênero. Já outros consideram esta classificação como subgênero, considerando gênero uma definição mais ampla: ficção, documentário, experimental e, aí também, a maioria inclui animação. Mas não há filmes de animação de ficção ou experimentais ? Não há animações de ficção científica, comédia, drama, policial? Para nós, Animação é Cinema! Em toda sua amplitude e abrangência."
Marão |
Conhecido pelo seu estilo independente de produzir animação, o animador Marão fala um pouco mais de sobre essa discriminação:
"Animação não é gênero porque a animação é a base de tudo. O grande público – e especialmente quem só assiste Hollywood – acha que animação é só a vertente comercial que faz longas infantis em 3D com orçamentos de trezentos milhões de dólares. Se você sai desse nicho (e é um grande e espaçoso nicho), descobre inúmeras animações de culturas e gerações distintas sobre incontáveis assuntos e inimagináveis abordagens, que – aí, sim – perpassam por todos os gêneros que existem."
Claudia Bolshaw |
"Acredita-se que a animação, por ter sido vinculada basicamente ao contexto infantil, tenha ficado mais conhecida como aventura e ficção, mas isso não a transforma em um gênero.
O gênero de uma narrativa era originariamente determinado por uma categoria de composição literária, que pode ser apresenta de distintas maneiras (romance, aventura, épico, novela, drama, conto, comédia, terror, pantomina, poesia e mistério, dentre outros). É possível também narrativas hibridas, com um ou mais estilos em uma mesma obra.
Walt Disney afirma que a 'animação pode explicar qualquer coisa que a mente humana conceber', essa versatilidade a torna uma linguagem capaz de ser um excelente suporte para os mais diversos gêneros."
Leo Ribeiro |
Outro ponto foi levantado pelo animador e pesquisador Leo Ribeiro: Como poderia a animação ser um gênero cinematográfico se esta precede ao Cinema?
"A animação precede ao cinema, e é parte inerente do desenvolvimento dos dispositivos e espetáculo cinematográficos. Posteriormente, alguns dos pioneiros da animação, como Emile Cohl e Winsor McCay, utilizaram o cinematógrafo como suporte para a produção de animação. Esse arranjo técnico se mostrou eficiente artística e economicamente, e também foi adotado pela indústria da animação, tornando-se um padrão.
No entanto, muitos autores concebem como marco inaugural do cinema, a invenção do cinematógrafo. Assim cria-se a falsa impressão de que a animação seria uma derivação do cinema. Talvez essa seja a causa da inversão de prestígio entre as práticas, que se perpetua até hoje, convertendo a animação em um sub produto do cinema."
No entanto, muitos autores concebem como marco inaugural do cinema, a invenção do cinematógrafo. Assim cria-se a falsa impressão de que a animação seria uma derivação do cinema. Talvez essa seja a causa da inversão de prestígio entre as práticas, que se perpetua até hoje, convertendo a animação em um sub produto do cinema."
Raphael Argento |
Coordenador do curso de Design Gráfico: Ilustração e animação digital da Universidade Veiga de Almeida, o animador e professor Raphael Argento chama atenção ao fato que a maior parte dos cineastas não busca e nem tem interesse em compreender a animação, mesmo usando tal linguagem para suas produções:
"O Oscar é um festival que se preocupa com a bilheteria das obras. E como deixar de lado um setor que traz milhares de espectadores às salas de exibição? Através da concessão do status de "gênero" a este meio. Bem mais prático àqueles que não se preocupam com a profundidade da obra animada, mas não podem deixar de conceder a grandes estúdios a oportunidade de participar e apresentar suas obras.
O interessante nisto é que filmes, como 'O curioso caso de Benjamin Button', que utiliza em sua totalidade efeitos especiais, não é considerado um filme de animação. Então por que, para filmes como este, não existe um gênero 'efeitos especiais'? Só porque o personagem exibido é realista?"
Grande veterano da Animação Brasileira, referência para muitos animadores da atualidade, atuante desde final dos anos 60 no grupo fotograma, depois nas organizações Globo e hoje ainda na ativa como roteirista de filmes animados, Pedro Ernesto Stilpen, o Stil, com muito humor, tentou até ir contra a corrente dos outros entrevistados, mas não conseguiu.
Stil |
"Sim! A animação é um gênero superior de cinema, em que cada fotograma conta. Mas, como isto é meio... digamos... esnobe, é melhor dizer que não, pois a animação nasceu antes do cinema, independendo dele para se comunicar."
Marcos Magalhães |
Sintetizando todo o pensamento citado pelos convidados acima, o Animador, pesquisador e também um dos fundadores do Festival Anima Mundi, Marcos Magalhães conclui, de forma brilhante e bem humorada. E é com essa frase que concluímos nossa matéria:
"Para mim o correto é afirmar que o cinema é um gênero de animação... feita com menos imaginação."
Para todos nós Marcos, para todos nós!