26 de abril de 2015

História do Cinema de Animação – A Criatividade de Émile Cohl (7ª Parte)

Émile Eugene Jean Louis Courtet 
Na última postagem finalmente vimos o cinema de animação nascer, com o curta de 1906 “Humorous Phases of Funny Faces” de James Stuart Blackton. Além disso, observamos que os filmes de efeito (trickfilms) contribuíram bastante, tanto para o nascimento do cinema de animação, quanto para o seu próprio progresso.

Contudo, chegou um momento que o mercado cinematográfico foi exaustivamente abarrotado com estes filmes com sequências animadas. O público estava saturado com as produções e narrativas mal construídas e o descuido estético. Somente com os artistas Émile Cohl e Winsor McCay, o cinema de animação viria a ganhar toda a reestruturação técnica, estética e narrativa que o consolidaria como arte e auxiliaria no seu processo de industrialização. Na postagem de hoje vamos conhecer um pouco mais sobre Émile Cohl e suas grandes contribuições com o cinema de animação.

Além da impregnação do mercado cinematográfico com diversos filmes de efeitos com pequenas sequências animadas, o desinteresse do público com essas produções também se deve ao compartilhamento da informação como eram realizadas estas sequências. A aura que cercava os espectadores referentes aos mistérios e dúvidas de como era possível a realização daquela “magia” foi revelada e assim o encanto e deslumbre foi quebrado. O próprio pai da animação James Stuart Blackton, que contribuiu com um grande marco para a história cinema de animação, admitiu que até mesmo os seus filmes se tornaram monótonos.

The Hauted Hotel (1907) de James Stuart Blackton

Era necessário um molde que o identificasse como arte e que resgatasse o interesse do público, não apenas pela técnica da animação, mas para toda a obra. E o primeiro grande artista que conseguiu essa proeza foi Émile Eugene Jean Louis Courtet (1857 – 1938), popularmente conhecidos como Émile Cohl. Antes do seu pioneirismo de transformar a animação em arte, foi cartunista, piadista, debatedor, pintor, poeta, fotografo, desenhista, escritor de peças teatrais e ilustrador. O interesse pela arte cinematográfica se desenvolveu ao ser convidado para adaptar suas histórias em quadrinhos em filmes.

Fantasmagorie (1908) o primeiro filme animado 

O seu primeiro filme animado “Fantasmagorie”, lançado em 1908 é considerado o primeiro filme animado de verdade, pois todo o curta metragem foi fotografado frame a frame. Para a construção da sua animação, ele utilizou de tinta nanquim em cada um dos 700 desenhos feitos com os traços simplificados sobre uma caixa de luz (mesa ou prancha de animador, com uma iluminação vinda por baixo que reflete em uma superfície de vidro). A utilização da caixa de luz foi à solução prática para o ganho de fluidez dos movimentos animados ao facilitar a modificação com exatidão de um desenho entre um fotograma e outro. Além disso, contribuiu com a diminuição do ardiloso trabalho, de desenhar fotograma por fotograma. Ela possibilitou, ainda, a utilização do mesmo desenho duas vezes durante o processo de fotografar os frames de uma animação, sem impedir a continuidade do desenho.

Le Cauchemar de Fantoche (1908)

Émile Cohl pensou na animação de forma tão artística, que se utilizou de técnicas que preservassem as linhas brancas que se moviam no fundo negro, mesmo com a utilização da tinta escura. Além desse artifício, foi pioneiro ao utilizar em suas animações as metamorfoses (sequência animada na qual um desenho sofre mutações contínuas, misturando-se com as formas e contorno dos outros desenhos gerando novas figuras), a máscara fotográfica (a técnica que possibilita a junção precisa de animações com sequências de ação ao vivo) e o efeito de zoom nas imagens, recurso esse ainda inédito nos aparelhos de captação fílmica da época. Este efeito inovador acabou gerando o plano close-up, muito utilizado atualmente nos diversos gêneros de filme para focalizar e destacar rostos.

A simplicidade e sofisticação dos desenhos de Émile Cohl

Até 1910, sua filmografia somava mais de 40 filmes, aproveitando de toda a sua criatividade como artista. Richard Williams (2001) diz que, mesmo com desenhos que parecem ser feitos por uma criança, a animação de Cohl é sofisticada, contribuindo bastante para a modelagem de princípios da animação que seriam instaurados anos mais tarde.

A homenagem a Émile Cohl - Fantasmagorie 2008

Em 2008, o diretor Rastro Ciric produziu o curta-metragem animado “Fantasmagorie 2008” que mesclava técnicas de animação 2D e 3D. O curta-metragem foi uma homenagem aos 100 anos da primeira animação de Émile Cohl e em memória do artista que faleceu em 1938 que influenciou, e influencia, outras mentes tão geniosas quanto a sua. Émile Cohl, além de marcar a história do cinema de animação, também abriu caminhos que possibilitaram a industrialização dessa arte.

Na próxima semana vamos conhecer Winsor McCay, o qual também contribuiu amplamente para a história do cinema de animação.