"Vidas ao Vento" (2013) é o mais recente longa do mestre Hayao Miyazaki - um nome que, por si, já garante qualquer ingresso, para aqueles que conhecem sua obra, principalmente fãs de animação. E vale cada centavo, cada segundo, cada fotograma.
O filme nos conta sobre a vida de Jiro Horikoshi, engenheiro projetista de aviões, que bolou o "Mosquito" Zero japonês, terror das forças americanas no Pacífico (não é à toa que não ganhou nem o Oscar de Longa de Animação, nem o Annie). Na biografia da Wikipédia, consta que esta anibiografia (gostaram? Gostaram?) toma certas liberdades. Não saberia dizer, desconhecendo a vida de Horikoshi, mas posso intuir. Assistir a "Vidas ao Vento" é como esperar que a vida pudesse ser mais lírica do que possivelmente é.
É como assistir alguma coisa de Fellini. O onírico permeia. Passagens de tempo são intuídas, nunca às claras. Mas você flui de uma para outra, como se ao sabor do vento. Podia ser sobre Santos-Dumont, facilmente. O sonho em voar, os projetos, as crises. Mas sou suspeito.
O filme ainda tece considerações sobre a autoimagem de uma nação, sobre o que é modernidade e ainda, design. Intencionais ou não, tem leituras sugeridas, que apenas enriquece o que já é farto.
É uma animação curiosa: diferente das obras anteriores de Miyazaki, esta não é uma história com seres fantasiosos, procurando ser mais pé no chão (trocadilho inevitável) exatamente pelo seu caráter biográfico, mas compensa esta ausência nas belíssimas sequências de sonhos. Como disse antes, o onírico permeia. E ainda, fica evidente que poderia ser perfeitamente um filme live-action com inserções de efeitos especiais, ao invés de uma animação. Por que, Miyazaki? A resposta está em uma frase dita por Horikoshi, "Tudo o que eu queria fazer era algo bonito." E ele fez.
Merece ser sonhado em tela grande. Não deve durar muito ainda (aqui no Rio está somente no Estação Botafogo, e até dia 19/03, do que nos consta): não percam.
Luiz Felipe Vasques escreveu esta Resenha.