28 de julho de 2016

O Destaque da Figura Feminina em Zootopia

Judy Hopps - A figura feminina destaque de Zootopia

          "Zootopia – Essa Cidade é o Bicho", é o filme animado do Wat Disney Animation Studio que estreou no início deste ano e bateu recordes em seu lançamento nos cinemas e recebeu diversos elogios em mídias especializadas. O que torna Zootopia tão especial e consequentemente um sucesso de público e crítica?

         Sua narrativa, com animais antropomórficos, sobre uma coelha que deseja ser policial e mudar o mundo; ou a forma como o filme discursa sobre delicadas e complicadas questões de discriminação, preconceito e a intolerância de uma maneira metafórica e compressível para seus distintos públicos; ou seria a personagem feminina, Judy Hopps, que se destaca em um estúdio que vangloria as protagonistas princesas?

Cinderela, uma das princesas da Disney que busca um amor, membro da realeza

          Antes de abordarmos a unicidade e importância de Zootopia é necessário observar um pouco mais sobre as protagonistas femininas nos filmes animados. Sabemos que a filmografia do estúdio Disney tem uma gama enorme de filmes sobre princesas, inclusive o primeiro longa animado da empresa foi sobre uma princesa “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937). A importância das princesas para a Disney é tão grande, que acabou gerando a marca “Disney Princesa” que apresenta um enorme e expressivo marketing com uma quantidade imensa de produtos.

         Contudo, as princesas Disney, mesmo com todo o sucesso de público que alguns dos filmes rendem ao estúdio, são personagens duramente criticadas, inclusive sendo objeto de pesquisas acadêmicas, especialmente sobre estudo de gêneros. Na grande maioria das críticas é embasada no fato de que elas não são as protagonistas de suas próprias histórias (um bom exemplo é “A Bela Adormecida” que passa boa parte do filme dormindo), ou a narrativa apresenta a princesa sempre em busca de um amor real, o que podemos interpretar também como a busca de um falo, membro da realeza. Claro que não são todos os casos, existem as pequenas exceções.

Branca de Neve a primeira princesa Disney de 1937

          Para enfatizar ainda mais sobre essa representação, em um estudo recente das linguistas Carmen Fought e Karen Eisenhauer sobre os papéis de gêneros nos filmes das princesas Disney foi analisado todos os diálogos das princesas e concluíram que as personagens masculinas têm três vezes mais falas do que as personagens femininas. De acordo com o estudo, o grande problema é o número enorme de personagens masculinas que só tem crescido comparado as personagens femininas. A pesquisadora Karen Eisenhauer afirma que: "Nós estamos treinados para pensar que os homens são a norma" e "Está enraizado na nossa cultura", por isso encontramos um número muito maior de personagens masculinos, tanto os protagonistas, como secundários e até os mais diminutos personagens.

Zootopia, onde você poder ser o que quiser, inclusive uma mulher de atitude

          Além disso, o site AnimationWorld Network ao analisar os filmes Disney lançados de 1937, com "Branca de Neve e os Sete Anões", até 2016, com "Zootopia- Essa cidade é o Bicho", constatou que o número de protagonistas masculinos em filmes animados é extremamente maior que o número de protagonistas femininos. Houve apenas 16 filmes com um personagem principal feminino. Enquanto houveram 60 filmes com um protagonista do sexo masculino e cinco na qual eles consideraram a divisão dos protagonistas com os personagens masculino e feminino.

          Em outra análise, apenas 5 dos filmes da Disney que apresentam uma protagonista do sexo feminino fogem da franquia das Princesas e das narrativas amorosas: "Alice no País das Maravilhas" (1951), "Peter Pan: De Volta à Terra do Nunca" (2002), "Nem que a Vaca Tussa" (2004), "Divertida Mente" (2015), e "Zootopia – Essa Cidade é o Bicho" (2016). O que demonstra que em 79 anos de biografia fílmica da Disney são poucos os filmes que quebram o molde das princesas como supostas protagonistas e apresentam outras oportunidades viáveis para narrativas com grandes heroínas e consequentemente o aumento no número de personagens femininas distintas.

Judy, a primeira coelha policial de Zootopia

          Neste sentido e observando estas análises, podemos perceber o quanto Zootopia se destaca por apresentar uma narrativa fílmica sem a presença de príncipes, princesas ou quaisquer membros de realeza para ambos os sexos. O filme se destaca sobretudo pela estonteante e cativante personagem Judy Hopps, como a protagonista. A pequena coelha Judy Hopps não é membro da realeza, é a representação da mulher que trabalha duro, busca o devido destaque por suas competências e principalmente, a sua trama não gira em torno da busca por um relacionamento romântico. Judy Hopps é a personagem que precisa vencer o medo e o preconceito, incluindo seus próprios preconceitos, para ser quem ela deseja ser. 

A intolerância e subestimação dos colegas oficiais de Judy

          A narrativa de Zootopia começa abordando como os animais evoluíram e deixaram os instintos primitivos ferozes no passado e agora predadores e presas vivem pacificamente. Todos os jovens mamíferos têm múltiplas oportunidades, eles podem ser o que desejam. Inclusive a pequena coelha Judy Hopps, que almeja ser uma policial e tornar o mundo um lugar melhor. Com muito esforço e dedicação, Judy é a primeira de sua espécie a entrar na força policial, que é predominada por outras grandes espécies de animais. Mesmo conseguindo alcançar seus objetivos e mostrando sua competência, Judy é forçada a lidar constantemente com a intolerância dos demais oficiais da polícia (e da própria comunidade), que a subestima e a desvaloriza por ser uma pequena coelha. Podemos inferir sua representação como uma figura antropomórfica da mulher em busca de seu espaço em meio a uma profissão predominantemente de homens?

Um dos aparatos de defesa contra raposas oferecido pela família de Judy

         Contudo, a própria narrativa evidencia a personagem Judy Hopps agradável e batalhadora, também demonstra suas complexidades e seus preconceitos. O pequeno animal vem de uma família de coelhos fazendeiros que tem bastante receio da futura profissão da filha e por isso a desacreditam sobre seguir seus sonhosO segredo é não acreditar muito nos sonhos”. Além disso, enraizados pelo medo dos predadores, especialmente as raposas, a família acaba repassado a Judy o preconceito contra estes animais. E durante o desenvolvimento da narrativa ela precisa lidar e liquidar com seus próprios preconceitos repassado de sua família “amável e bem-intencionada”.

Judy Hopps uma heroína distinta em meio a tantos personagens masculinos 

          Se em seu discurso final Judy aborda sobre os erros, as diferenças, as dificuldades e sobretudo as mudanças que devem começar dentro de cada um de nós para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Podemos associar a pequena Judy Hopps à busca a transformação e igualdade em Zootopia, também à esperança e à diligência que comprovam que os filmes de animação podem sim ser estrelados por mulheres fortes que não buscam apenas o amor, mas buscam a igualdade demonstrando a verdadeira força feminina através de narrativas com distintas heroínas de suas próprias histórias. E por fim, se as pessoas podem ser inspiradas ou limitada por aquilo que veem, Judy Hopps é a personagem ideal para impressionar tanto as crianças quanto os adultos.