É isso mesmo que você ouviu querido leitor! O Anima Mundi 2017 ganhará mais dias no Rio de Janeiro.
Comemorando 25 anos, a edição de 2017 do festival promete muitas atrações como a presença de Robert Feng, responsável pela abertura da série Game Of Thrones, Robert Valley que foi indicado ao Oscar pelo filme Pear, Cider and Cigarretes e o veterano uruguaio Walter Tourier.
Reorganize sua agenda Animada, o Anima Mundi no Rio de Janeiro agora vai do dia 14 ao dia 23 de Julho! E a programação ja está completa no site oficial do festival!
Faleceu neste domingo, 25 de junho Pedro Ernesto Stilpen, o Stil.
Stil é uma referência da animação brasileira. Seu trabalho e paixão pela animação inspiraram e inspiram a muitos dos que hoje trabalham e produzem animação no Brasil.
Foi lá em 1968, que ,junto com outros cineastas (entre eles Antônio Moreno), Stil ajudou a fundar o grupo Fotograma com o objetivo de divulgar o cinema de animação no Brasil. Este grupo organizou diversas mostras internacionais de filmes de animação na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro. Podemos dizer que era o Anima Mundi décadas antes do Anima Mundi. Além do mais o grupo Fotograma também realizou um programa na extinta TV Continental sobre o mundo da animação.
Mas em 1969, o grupo, considerado subversivo, se extinguiu. Stil, que trabalhava como arquiteto numa empresa estatal foi demitido e aí decidiu largar a arquitetura pra se dedicar a aquilo que mais gostava: O Cinema de Animação. "Graças a ditadura eu deixei de ser arquiteto pra virar animador" disse ele em entrevista no documentário Luz, Anima, Ação.
E nesses mais de 40 anos, dedicado a arte da ilustração e do cinema foram inúmeros trabalhos: Curtas Metragens, roteiros de live-action e animação, livros, ilustrações, diversos personagens como a atrapalhada dupla detetives Antunes e Bandeira, Asdrubal, diversos dos "plim plims" da Rede Globo.
Rede Globo que aliás foi um dos lugares onde ele mais contribuiu com seu trabalho: Além dos Plim plims seu trabalho estava estampado em diversas atrações como: Faça humor não faça guerra, Satiricom, Armação Ilimitada, Domingão do Faustão e especiais de Lisa Minelli e Tom Jones.
Ainda como animador independente, sua contribuição foi valiosissima por sempre buscar técnicas baratas de produção utilizando papel de embrulho como suporte para o desenho de croquis animados com caneta hidrográfica, abrindo perspectivas para a utilização de outras técnicas: Assim foi nos filmes Status Quo (1968), Batuque (1969), Lampião ou pra cada grão uma curtição (1972), ABC (1978) e muitos outros filmes.
No ano de 2014, na terceira edição da Mostra Animação S.A. de Cariocas Animados, foi exibido o filme "Asdrubal em o que é que há com seu Peru" e Stil foi o homenageado da noite.
Mesmo após sua saída da Rede Globo a pouco mais de uma década, Stil nunca parou de projetar, de sonhar de trabalhar. E uma de suas últimas realizações foi roteirizar o longa metragem "As aventuras do pequeno Colombo".
A partida de Stil entristece um pouco este ano do Centenário da animação brasileira. Afinal de contas muitos do que hoje estão produzindo nessa Pindorama animada tiveram valorosos ensinamentos deste grande e respeitado veterano da animação. Essas linhas aqui escritas representam muito pouco de sua grande contribuição. Mas nesta singela homenagem fazemos nossa reverência ao Mestre Stil!
Descanse em Paz querido amigo! Nós da família Animação S.A. somos eternamente gratos a você
Hoje vou falar sobre o meu último dia no Festival de Annecy 2017.
Não vi a sessão de encerramento, pois é para convidados, mas ela
aconteceu no sábado mesmo, com sessões no domingo sobre os premiados. Então vamos lá!
Foram duas sessões de longas e uma de curta-metragem.
Sessão de longas-metragens 1
In This Corner of the World
Direção
: Sunao Katabuchi
País :
Japão
Ano de produção:
2016
Duração
: 02 h 09 mn
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
A animação ao estilo tradicional japonês, inspirada no design mangá,
então não há muito a dizer sobre o visual, sempre bem desenhado, fundo muito
bem pintado e detalhado, com nada que pese negativamente na criação das
imagens. Então vou à narrativa. A animação lembra o Cemitério dos Vaga-lumes
(1988), de Isao Takahata. A história se passa em um momento difícil da história
japonesa, um período que vai de antes a depois da 2a. Guerra Mundial. Suzie é
uma jovem de Hiroshima, que deixa a família para se casar e viver com os pais
do marido em outra cidade. O filme conta bem como era a região, as relações
familiares, o respeito e a esperança dos japoneses em seu país. E o sofrimento,
as perdas, a frustração com a derrota na guerra. Um filme pesado, apesar das
cores sempre pastéis que aparecem na tela, mas bem feito. A história não é
bonitinha.
Sessão de longas-metragens 2
Ethel and Ernest
Direção : Roger Mainwood
País : Reino Unido, Luxemburgo
Ano de
produção: 2016
Duração
: 01 h 34 mn
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
Esta animação conta a história dos pais de Raymond Briggs (ilustrador
britânico), Ethel e Ernest, duas pessoas comuns, da baixa classe trabalhadora
de Londres, que se apaixonam, se casam, e passam por boa parte das mudanças
sociais, culturas e políticas do século XX (mais ou menos, entre os anos de
1920 e 1960).
Como animação, é muito bem desenhada, como todos os detalhes
arquitetônicos, de vestimenta, de objetos e decoração, que cobrem um período de
tempo histórico considerável. Enquanto narrativa, foi bem elaborada,
conseguindo mostrar as passagens de tempo e as mudanças de situação e pessoais
de forma clara e sem ser maçante. Mas não há nada no filme, que não pudesse ter
sido feito em live-action, mas é baseado na história em quadrinhos que Briggs,
o filho, desenhou.
Sessão de Curtas 2
Zug nach Peace - Trem para a paz
Direção
: Jakob Weyde, Jost Althoff
País : Alemanha
Ano de
produção: 2016
Duração
: 09 mn 52 s
Técnica(s) utilizada(s) : 2DTécnica(s) utilizada(s) : Stop motion com
objetos, Desenho sobre papel, 2D, 3D
A animação trabalha com imagem live-action. Conta a história de um
iraquiano que vive em Berlim, e no metrô, vai refletindo sobre a situação de
seu país, e a dele, um estrangeiro em outro lugar. Bom filme, com intervenções
gráficas nas imagens reais, e imagens animadas com visual de xilogravura, preto
e branco.
Tesla :
Lumière mondiale - Tesla Luz Mundial
Direção
: Matthew Rankin
País :
Canadá
Ano de
produção: 2016
Duração
: 08 mn 18 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Stop motion com bonecos, Pixilation, outras, Live-action
Outra animação que usa imagem live-action. Com a história real de Nikola
Tesla que em 1905 pede dinheiro ao seu ex-mecenas para financiar a mais
extraordinária invenção: a criação de uma fonte de energia em escala mundial.
Um bom filme, que soube utilizar as imagens de forma referencialmente
inteligente - com efeitos do cinema de avant-garde do início do século XX, uma
vez que a própria história real se passa no mesmo período.
Pépé le morse - Vovô Morsa
Direção : Lucrèce ANDREAE
País :
França
Ano de
produção: 2017
Duração
: 14 mn 53 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
Animação muito interessante, conta a história de uma família que por
razões religiosas da avó, vai à praia "visitar o avô", que já está
morto, como se fossem a um cemitério.
A relação da família, a mãe e os quatro filhos, é bem conturbada, e
acham que a avó está meio "caduca", mas cedem à sua vontade. Coisas
estranhas e engraçadas acontecem na praia, misturando drama e surrealidade. A
animação em desenho é utilizada para dar forma a esses momentos, com
personagens bem concebidos.
MeTube 2: August Sings Carmina Burana
Direção : Daniel Moshel
País : Áustria
Ano de produção: 2016
Duração : 05 mn 41 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Live-action
É um clip animado sobre a música de Carmina Burana, cantada por
performances de rua. As animações acontecem nas interferências e adições sobre
a imagem live-action. Visualmente interessante, parece uma grande apresentação
circense, que desaparece em segundos.
Adam
Direção : Veselin Efremov
País : Dinamarca
Ano de
produção: 2016
Duração
: 05 mn 53 s
Technique
Técnica(s)
utilizada(s) : Ordinateur 3D
Animação 3D de ambiente e história sem esperança, mostra um homem/robô
se soltando de uma estrutura para adaptação biônica, em um laboratório. Em
termos de 3D, é muito bem feito na recriação de um ambiente irreal mas que
parece imagem filmada. Em termos de narrativa visual é deprimente,
representando bem a condição do personagem.
The Full Story - A história completa
Direção
: Daisy Jacobs, Chris Wilder
País : Reino
Unido
Ano de
produção: 2017
Duração
: 07 mn 30 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Stop motion com objetos, Pixilation, outras
O curta conta a história de Toby que vende a casa onde passou a
infância. Fatos e situações de sua vida são mostradas através da animação com
objetos de forma bem criativa e envolvente. Também tem uma narrativa
introspectiva e reflexiva, mas é um bom filme e uma boa animação.
Nothing
Happens - Nada Acontece
Direção
: Uri Kranot, Michelle Kranot
País :
Dinamarca, França
Ano de
produção: 2017
Duração
: 11 mn 49 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel, Fotocópia
A animação fala da inércia, pois, literalmente, nada acontece. Através
de desenhos, aparece uma cena de pessoas que se colocam em pé, em um a planície
de neve, até formarem uma, massa, pois ficam todos juntos. Essa cena é
entrecortada pela das árvores, onde pousam os corvos.
Com predominância de branco, preto, azul escuro e ocre, a câmera passa
pelas pessoas, mostra seus rostos, todos com olhos esbugalhados, meio que esperando
por alguma coisa.
Sprawa Moczarskiego - Caso Moczarski
Direção : Tomasz Siwinski
País :
Polônia
Ano de
produção: 2016
Duração
: 05 mn 15 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Pintura sobre vidro
Animação forte. Baseado em uma história real, do jornalista polonês
Kazimierz Moczarski. Membro da Resistência durante a ocupação nazista da
Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e autor do livro "Conversas com o
carrasco". Depois, ele foi perseguido, preso e torturado pelo governo comunista
de Stalin, e reabilitado durante o período anti stalinista. Com predominância
de preto, a pintura sobre vidro caiu muito bem na representação dessa história,
com fluidez e dramaticidade. Muito boa animação, em todos os sentidos.
Nocna ptica - Pássaro noturno
Direção
: Spela Cadez
País : Eslovênia,
Croácia
Ano de
produção: 2016
Duração
: 08 mn 50 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Éléments découpés
Animação soturna, fechada. Mostra um animal - que pessoalmente me
pareceu mais um tipo de gambá - estendido na estrada, à noite. Ouve-se um
diálogo entre um homem e uma mulher sobre ele, mas os dois não aparecem na
tela. Depois surge o personagem correndo, entrando em um carro e dirigindo por
um tempo longo. A narração é sobre os pensamentos do personagem. Feita com
recorte o curta é muito bem animado. Enquanto história fica aquela sensação de
que ficou faltando algo -apesar de achar que a intensão era essa mesmo.
Impressão geral sobre o Festival:
É difícil resumir... mas vou tentar!
Destaco que escrevi o diário deste dia despois que soube da lista de
premiados - foi divulgada no sábado mesmo - mas isso não interferiu no meu
ponto de vista.
Alors,... como dizem os franceses... é um festival muito grande como já escrevi
no primeiro dia. São 10mil pessoas (dados do festival) a mais na cidade, que
tem uns 50mil habitantes. Então, é fácil entender que é difícil organizar e
fazer com que tudo corra bem em todos os pontos de exibição e locais diversos
ligados ao festival.
Mas também acontecem situação em que as características culturais se
fazem presente. Mesmo ocorrendo alguns problemas causados por questões alheias ao
participante, eles são pragmáticos. Assim, o problema acaba "sendo
do" participante, pois ele vai ter que resolver sozinho.
Agora, um elogio: uma coisa muito legal é a quantidade de
longas-metragens em exibição: nove em competição de 11 fora de competição!
Infelizmente só tive como assistir a um deles...snif...
No geral, eu assisti a três sessões que achei muito boas - a
Perspectivas 1 e as Sessões de Curtas-metragens em Competição 2 e 3. Mas não vi
nenhum filme que eu pudesse dizer, "nossa, que animação!". O nível
técnico de todas é muito equilibrado.
Em termos narrativos é evidente o momento de desesperança e de crítica
ao modelo de vida e sociedade atuais. Assim como ficou claro a postura política
do festival, na afirmação da liberdade de expressão, política, sexual, étnica,
cultural, etc.
Comentando sobre os premiados do Festival,
onde só posso falar do que eu vi - longas e curtas-metragens.
Obviamente eu tenho uma visão diferente da lista de premiados oficial.
Acho que "Lu Over the Wall", para primeiro e mais importante prêmio
de longa-metragem (Cristal), é fraco - comentei sobre ele no segundo dia. Tudo
bem que ele usa a animação de formas mais solta, apesar de ser oriental, e com design
de manchas para representar as lembranças. Mas isso, para mim, é pouco para
levar o prêmio. Acho que ele tem que ser "bom" no conjunto. Enquanto
história, “Loving Vincent”, “In this Corner of the World”, “Big Fish &
Begonia”, ou mesmo “Teheran Taboo” são muito mais fortes. Os dois primeiros foram premiados respectivamente, com prêmio do público
(realmente, eu ouvi muitos comentários sobre o filme, em filas e nas ruas da
cidade) e do juri.
Quanto à premiação dos Curtas, eu também não acho que “Mon Börda” (The
Burden) fosse "o melhor" para o primeiro prêmio, apesar de ser uma
boa animação. Acho que “Caso Moczarski” (que vi no sábado), “Empty Space”, “After
All”, “Kötö Kiz” (ganhou prêmio do juri), “Splendida Moaert Accident” (ganhou o
prêmio de primeira obra) e mesmo “Manivald”, ficariam melhor como premiado
principal.
Mas como se diz, "cabeça de jurado é caixa de Pandora..." E
são muitos os motivos que levam uma produção a ser premiada, e isso ocorre em
qualquer festival – o que nem sempre é evidente para quem somente assiste aos
filmes.
Bem, eu me despeço esperando ter conseguido passar para vocês um pouco
do que eu vi e vivi em Annecy, e ter 'animado" o amor de vocês por essa
Arte.
Abraço a todos e muito obrigada pelo interesse! ;)
Antes de falar
mais sobre os filmes no meu quinto dia de diário animado, vou dar minha impressão sobre a cidade de Annecy.
É uma cidade no
meio da França, situada no lado leste do país. É bem mais perto de Genebra que de
Paris! Sua bandeira, inclusive parece a bandeira da Suíça, sendo que os braços
da cruz branca de Annecy, dividem a bandeira em quatro quadrados vermelhos.
No verão, como
agora, é bem quente: mais de 30 graus. E no inverno é frio. É aos pés das
cadeias de montanhas onde fica o Mont Blanc – aquele “das canetas”.
Tem um lago lindo,
de águas literalmente cristalinas, quase inacreditável! Dá vontade de voltar em
outro momento só para curtir a cidade - pois isso eu não fiz, na correria de
assistir às sessões.
Bem, vamos a elas!
Foram duas sessões de curtas e uma de longa-metragem.
Sessão Curtas Off-Limits
É uma sessão “reservada aos
curtas-metragens com foco na exploração, na inovação
e na experimentação”. Quase todos são não-narrativos, então vou me ater a uma pequena
descrição e impressão sensorial do que vi.
Cinéma Emek, Cinéma Labour, Cinéma Travail - Cinema Emek, Cinema Lavoura,
Cinema Trabalho
Direção : Özlem Sulak
País: France, Turquia
Ano de produção: 2016
Duração : 05 mn 15 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D, 3D
É uma animação que mostra como era o grande cinema Emek, em Istambul, que
foi demolido em 2010. Ele começa com o teto da sala principal do cinema sendo
desenhado por linhas que correm e montam todos os detalhes arquitetônicos do
local. Era um ambiente grande e bonito. Como animação, pela própria proposta
descritiva, acaba sendo um pouco cansativo.
Fuddy Duddy – Careta, antiquado
Direção : Siegfried A. FRUHAUF
País: Austria
Ano de produção: 2016
Duração : 05 mn 30 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Outras
O curta tem uma proposta filosófica: a luta entre o caos e a ordem.
Visualmente vê-se – sendo bem simplista – várias imagens com quadrados brancos
e pretos, de vários tamanhos, que se sobrepõem uns aos outros. Essa variação
acontece em sincronia com a música, em frequências diferentes. Na mais intensa,
têm-se a impressão de que se está olhando uma luz estroboscópica. Achei um
pouco longo.
Johnno's Dead – A morte de Johnno
Direção : Chris SHEPHERD
País: França, Reino Unido
Ano de produção: 2016
Duração : 08 mn 26 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D, Pixilation, Rotoscopia,
Outras
Trabalhando com uma mistura de técnicas, o curta mostra a agonia e o
sentimento de injustiça e vingança de um homem condenado por um crime que não
cometeu. Através de imagens em live-action trabalhadas com várias
interferências, a narração vai contando os pensamentos do personagem. O filme
reflete a agonia da situação.
Overlook - Ignorar
Direção : Pink Twins
País: Finlândia
Ano de produção: 2017
Duração : 05 mn 42 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 3D
Esta animação se inicia com uma cena parada, de uma nobre sala em estilo clássico,
como se fosse feita de acrílico – é modelada em 3D. E começa a escorrer tinta
vermelha pelas paredes, que cobre tudo. E isso ocorre algumas vezes. Também tem
uma proposta filosófica. Mostrar uma ruptura espaço-tempo, e um certo horror.
Particularmente, achei longo para a proposta.
Le Sentier – O Caminho
Direção : Hadrien dit Bhopal Bertuit
País: França
Ano de produção: 2016
Duração : 06 mn 35 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel
Através de diversas fotografias, é contada a história de alguém, seguida
de uma narração. As fotos são centrada na tela. Estas então são pintadas de
forma a tomar toda a tela com uma imagem completa. Proposta interessante,
visualmente agradável, é praticamente documental.
Dix puissance moins quarante-trois secondes – Dez forças menos quarenta e
três segundos
Este curta-metragem trabalha a partir de imagem filmada slow-motion, e 3D
– o homem e o universo – com trilha sonora própria, como se fosse um som
aberto, durante todo o curta. A narração vai refletindo sobre a questão do
tempo da vida, do instante, da finitude.
Foi a animação que ganhou o prêmio da categoria.
1960 :: Movie :: Still
Direção : Stuart POUND
País: Reino Unido
Ano de produção: 2016
Duração : 02 mn 11 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
A animação é criada a partir de imagens do filme "L'Avventura"
(1960), de Michelangelo Antonioni, especificamente, com as imagens de Monica
Vitti. Dividindo a tela em 10 partes, as cenas do filme se passam de forma
sequencial. O que dá um resultado e um movimento geral bem bonito e interessante.
Lembram o flipbook e o efeito de caleidoscópio.
É um curta introspectivo, em preto e branco, de um homem que reflete
sobre sua vida, desde a infância através de suas fotografias. A narração vai
ancorando e dando sentido às imagens. Um pouco longo para o tipo de proposta.
La Bêtise – A Estupidez
Direção : Thomas Corriveau
País: Canada
Ano de produção: 2016
Duração : 06 mn 45 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel, Rotoscopia
Outra animação em preto e branco, que aborda a questão da guerra e da
violência. Inspirada nas gravuras Os Desastres da
Guerra (1810-1815), de Francisco de Goya, mostra
dois personagens que se agridem, numa violência hipnótica.
A animação mostra em 3D a possibilidade de movimentação do plano
terrestre, com a criação e alteração de montanhas. É bem atrativo, com trilha
sonora coerente com as ações, mas um pouco longo demais, o que “quebra” a
intensidade das imagens.
Hand Colored no.2 – Pintado à mão n.2
Direção : Lei Lei, Thomas Sauvin
País: China
Ano de produção: 2016
Duração : 04 mn 52 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel, 2D
Os artistas
criaram essa animação a partir de 1168 fotografias em preto e branco achadas em
mercados de pulgas chineses. Através das pinturas dessas fotos, eles se
perguntam sobre a vida dessas pessoas. Proposta envolvente e visualmente
alegre.
Sessão de Curtas 4
Splendida Moarte Accident – Esplendida morte acidental
Direção : Sergiu Negulici
País: Romênia
Ano de produção: 2016
Duração : 15 mn 05 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Stop motion com objetos,
Desenho sobre papel, 2D, 3D
Em uma loja de antiguidades, um homem encontra uma carta de amor de 70
anos, atrás de um desenho. Ele começa a procurar o autor e “viaja” por momentos
importantes da história do século XX. Muito bonita, atrativa. Pelas metáforas
que cria e pelo ambiente. A passagem de tempo acontece dentro de um trem. Como
se o personagem andasse dentro deste, passando pelos vagões e pelo tempo. Os
personagens são como bonecos feitos de papel. Vale à pena assistir.
Kosmos
Direção : Daria Kopiec
País: Polônia
Ano de produção: 2016
Duração : 02 mn 35 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Massinha
Fazendo uso de bonecos, a animação aborda a questão da atratividade dos
corpos. Mas não em “envolveu”.
Airport - Aeroporto
Direção : Michaela Müller
País: Croácia, Suiça
Ano de produção: 2017
Duração : 10 mn 34 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Peinture sur verre
Através da pintura sobre vidro, de forma que a direção das largas
pinceladas vão formando as imagens, a animação vai mostrando diversas situações
que acontecem em um aeroporto. Imagem inteligente, pois até pela situação,
sempre há uma correria, a utilização das pinceladas reforça a ligeireza das
ações. Mas achei que se fosse mais curta, como narrativa, seria melhor.
L'Ogre – O Ogro
Direção : Laurène Braibant
País: França
Ano de produção: 2017
Duração : 09 mn 41 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
Através do desenho caricato, o curta conta a história de um homem muito
grande (ele é um ogro) que em um restaurante, não para de comer. Assim, ele
assusta as pessoas, mostrando seu verdadeiro eu. Lembra o filme O Sentido da
Vida (1983), de Monty Python. O visual é sinuoso, com linhas finas e colorido
aquarelado. Personagens e cenário se movem de acordo com a cena, e isso cria um
efeito atraente às imagens do filme.
Kutxa beltza – Caixa Preta
Direção : Izibene Oñederra, Isabel Herguera
País: Espanha
Ano de produção: 2016
Duração : 07 mn 10 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel, 2D,
Outras
Animação surreal, do tipo que te deixa com uma interrogação. Começa com
um desenho de traços finos, colorido à caneta e aquarela, com predominâncias de
brancos de verdes. A cena de uma van que chega a um condomínio de prédios, e o
entregador vai fazer uma entrega. Mas em um dos apartamentos, há uma senhora
com seu gato preto. O visual é totalmente diferente: traços grossos,
displicentes, azuis, vermelhos, com predominância de preto. Surgem diversas
cenas de guerra, elementos africanos, cemitério... Ao final, o entregador leva
uma caixa... mas não vou contar o resto.
Valley of White Birds – O Vale do Pássaro Branco
Direção : Cloud Yang
País: China
Ano de produção: 2017
Duração : 14 mn 16 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel, 2D
Desenho muito bonito, colorido, e bem oriental. Metafórico, o curta conta
a história de tipo de rito de passagem. A relação homem-natureza através de
belas imagens. Muito bem animado, poderia ser mais curto, isso daria mais força
à história.
Dead Reckoning – Navegação Estimada
Direção : Paul WENNINGER, Susan YOUNG
País: Austria
Ano de produção: 2017
Duração : 02 mn 47 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D, Pixilation
A animação fala também da finitude da vida, através de imagens da vida
cotidiana e da vida de uma cidade. Com imagens em Pixilation de Viena, o filme
mostra com interferências em desenho, a morte sempre presente. É curto, e por
isso perfeito na proposta.
Kötü Kiz – Menina Malcriada
Direção : Ayce Kartal
País: França, Turquia
Ano de produção: 2017
Duração : 07 mn 59 s
Técnica(s)
utilizada(s) : Desenho sobre papel
Animação forte. Baseado em uma história real, mostra uma menina que conta
em narrativa seus pensamentos e momentos de vida, enquanto as imagens oscilam
entre suas lembranças boas e ruins. Com desenhos correspondentes, “fofos”,
infantis, coloridos e grotescos, fortes, medonhos. Fica claro o ataque a
menina, mas de forma indireta, pela conclusão do público. Muito boa.
Contact
Direção : Alessandro Novelli
País: Espanha
Ano de produção: 2017
Duração : 07 mn 53 s
Técnica(s)
utilizada(s) : 2D
E outro filme filosófico. Através de uma viagem interior, uma mulher se
questiona sobre a vida e o sentido das coisas. Com imagem em traços em branco e
fundo preto, várias situações metafóricas e surreais vão se sucedendo com a
narrativa dos pensamentos da personagem, onde ela mesma perpassa por esses
ambientes. O texto é muito bom, mas como animação, é o mesmo caso: poderia ser
um pouco menos longa.
Sessão de longas-metragens 2
Tehran Taboo – Tabu de Teerã
Direção : Ali Soozandeh
País: Alemanha
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 36 mn
Técnica(s)
utilizada(s) : Rotoscopia
O filme conta várias histórias pessoais dentro de um bom roteiro, sem
final feliz. É um bom filme, participou do Festival de Cannes, e é claramente
uma crítica à sociedade iraniana. Mostra a dura vida das mulheres – apesar de
lá, elas poderem estudar – que precisam de uma aprovação por escrito do marido (ou
pai) para tudo, inclusive trabalhar fora. Fala sobre as drogas, o sexo, a
corrupção, a falta de esperança, etc. Por essa razão, o título: coisas que não
se falam, coisas proibidas. É uma produção alemã de diretor iraniano.
Quanto ao visual, é de linhas retas grossas e com contrastes de cor e de
claro-escuro. Não há como não se lembrar de Valsa com Bashir (2008), outro
drama sobre o Oriente Médio. Porém, há vários momentos do filme em que a
“rotoscopia” não parece rotoscopia, mas efeito de filtro de algum software. Isso
“me tirou” do filme. É imagem real. E quando aparece o gato preto (que vive nos
arredores do prédio onde se passa boa parte da história), há uma “briga”, pois
o gato foi animado, não muito bem, em 3D.
Em termos de “ortodoxia” sobre o uso da animação para se contar certas
histórias, realmente não há nada que “justifique” o uso da rotoscopia ou
qualquer outra técnica animada, ao invés de live-action. Porém o diretor defende a utilização da rotoscopia pois, queria falar de uma realidade do país, mas não
tinha como filmar lá, então foi uma boa forma de representar a história, o mais
fiel possível à imagem real.
Resumo da ópera:
Mais um dia de filmes que refletem a falta de esperança que impera nos
nossos dias. Em termos de criatividade,
não vi nada “maravilhoso”, mas uma tendência a se misturar técnicas. O digital,
apesar da aura tecnicista em termos de “máquina”, de visual e técnico, matemático,
também carrega “um bocado” de inventividade. A experimentação dessas novas
formas de “fazer”, mescladas à forma tradicional, estão em alta.
Neste quarto dia no festival, assisti a dois longas-metragens e a sessão de Curtas Perspectivas 2.
Zombillenium
Essa produção belgo-francesa é baseada nos quadrinhos homônimos de Arthur de
Pins, é muita boa. Produção impecável: criação do roteiro - tem drama, romance,
ação, comédia, além de um pouco de terror -, personagens muito bem concebidos -
formas, cores e referência com o mundo real. Os cenários bem modelados de forma
que não "brigam" com os personagens, os seja, "realistas"
na medida certa. Os efeitos não foram exagerados e a trilha sonora de bom
gosto, também ajuda a dar corpo à história.
Não posso contar muito pois certamente deve chegar às telas do cinema... o
longa conta a história de um fiscal da prefeitura, que se transforma em zumbi,
quando estava dando uma “dura” em um parque de diversões temático, Zombilleniun.
O parque é na verdade um reduto de zumbis, vampiros e afins.
A Silent Voice
Este desenho animado também baseado em quadrinho, o mangá do mesmo nome de
Yoshitoki Ōima. Com personagens em estilo mangá tradicional - com aqueles olhos
bem grandes e "brilhosos" -, é um drama.
Ou melhor, vários dramas decorrentes de um comportamento de bullying sobre uma
menina surda. Em um pulo no tempo, os dramas perduram na adolescência, com mais
bullyings, tentativas de suicídio, arrependimentos, sentimento de culpa e
redenção. Não há nada na história ou na estética da animação que não pudesse
ser uma história em live-action. Cenários bem detalhados, como normalmente são
as produções japonesas, mas na animação é possível notar algumas falhas. O
roteiro poderia ser mais conciso e ter uma história menos longa, o que causa um
certo cansaço. Mas é um filme profundamente japonês, onde o dever fala sempre
mais alto.
Curtas da Sessão Perspectivas 2
Clair Obscure
Direção: Alan Bidard
País: França
Ano de realização: 2016
Duração: 4 min 15 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
Animação em preto e branco, com desenhos estilizados e traços largos. É um
drama com imagens do personagem que tem um círculo preto do peito, e procura se
livrar desse peso. Nessa busca, fundo e figura trocam de cor várias vezes. O
filme trata do tema do suicídio, e na cartela final comenta que a cada dez
dias, uma pessoa dá fim à vida, na Martinica.
Tiny Big
Direção: Lia Bertels
País: Bélgica
Ano de realização: 2017
Duração: 5 min 25 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D
Animação com personagens e elementos simples. Traço fino, estilizado, com
alguns elementos coloridos, outros em preto e branco. É uma sequência de cenas
de praia: na areia, pessoas jogando, pegadas sendo apagadas pelas ondas...
Aborda a questão mundana do homem, envolvido com coisas sem importância.
Half a Life
Direção: Tamara Shugaolu
País: Egito, EUA, Indonésia, Holanda
Ano de realização: 2017
Duração: 12 min 21 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D, live-action, outras
Curta feito em 2D, tipo recorte, mas que mistura imagem real e outras
técnicas. Conta a história de um jovem egípcio que vê um rapaz ser espancado
pela polícia. Tal fato inicia uma série de mudanças de atitude no rapaz, que se
torna mais ativo em lutar por um país melhor. Com cores contrastantes, traços
grossos, o filme representa bem a situação de insatisfação e de violência da
“Primavera Árabe” no Egito. Animação dura, alguns trechos são melhor animados
que outros.
Mammas hår (Cabelo da Mamãe)
Direção: Maja Arnekleiv
País: Noruega
Ano de realização: 2017
Duração: 5 min 27 s
Técnica(s) utilizada(s): Pixilation
Através de pixilation – animação de pessoas – conta-se a história de uma
família, cuja mãe teve câncer de mama, quando a diretora (irmã mais velha de
quatro meninas) tinha 16 anos. O filme mostra as meninas cortando o cabelo da
mãe. Pelas imagens e ao que tudo indica, não é um “pixilation” criado, mas
obtido através da escolha de alguns quadros, de um filme da família. Muito
corajoso e verdadeiro, é uma história que mostra que, mesmo nos piores
momentos, há coisas positivas.
Lupus
Direção: Carlos Gomes Salamanca
País: Colômbia, França
Ano de realização: 2016
Duração: 8 min 05 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D, Stop motion com massinha,
outras
Animação de visual sujo, conta a situação de um vigia que foi morto em um
ataque feito por cachorros em Bogotá. Usando desenho – ao que parece, sobre
imagens filmadas de câmeras de segurança – e imagens de televisão, manipuladas
e “grafitadas”, o diretor passa o clima sinistro da situação, onde se
contabilizam 600 mil cachorros vagando pelas periferias de Bogotá.
Roger Ballen’s Theatre of Apparition
Direção: Emma Calder
País: África do Sul, Reino Unido
Ano de realização: 2016
Duração: 5 min
Técnica(s) utilizada(s): 2D, recorte
Animação também sinistra, vizinha do terror. Tudo em preto e branco, com
predominância de preto, mostra diversas relações entre seres disformes, em tons
de cinza, texturizados, que se comem e fazem sexo. Alguns personagens lembram
as formas dos personagens do animador Phil Mulloy.
The Gap
Direção: Patrick Vanderbroeck
País: Bélgica. Holanda
Ano de realização: 2016
Duração: 14min 41 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
O curta começa com um visual branco, uma planície, e um personagem como um
boneco de blocos, todo quadrado, fechando alguns buracos no chão, com pequenos
blocos. Assim, o terreno fica todo liso e reto. Mas surge uma bola vermelha que
quica no chão, e descolando blocos quadrados e criando mais buracos. A história
é essa. A proposta é interessante, e pode-se imaginar diversas situações da
vida real que poderiam ser representadas, metaforicamente, pelo curta. Mas ele
é longo demais, o que faz com que ele perca a força. Mas foi bem animado.
Nos faltan
Direção: Emílio Ramos, Lúcia Gája
País: México
Ano de realização: 2016
Duração: 4 min 20 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D, 3D, live-action, outras
O curta fala do desaparecimento de 43 estudantes em Iguala, no México, em
2014. Pelo próprio motivo, também tem um visual sinistro com imagens do
subsolo, escuras, e de campo, que dão a impressão de um grande motion graphic.
Hucho Hucho
Direção: Juan Carve
País: Uruguai
Ano de realização: 2016
Duração: 5 min 17 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D
Animação minimalista, conta através de desenhos com manchas (sem contornos),
a história de um menino e seu avô (J), que lhe conta a história de um peixe que
volta ao lugar onde nasceu. Com um visual que lembra “O Menino e o Mundo” (Alê
Abreu, 2014), faz uma metáfora com o esquecimento e a vida.
Maacher Jhol – Peixe ao Curry
Direção: Abhishek Verna
País: Índia
Ano de realização: 2017
Duração: 12 min 04 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D
Com desenho arredondado de traços pretos grossos sobre fundo bege, o filme
mostra a relação de um jovem indiano que quer contar à família que não quer
casamentos arranjados, pois é homossexual. Para facilitar o seu objetivo, Lalit
cozinha o prato preferido do pai e o convida para jantar. A animação com humor
sutil, mostra nos detalhes, a situação do rapaz para conseguir o seu objetivo.
Panorama do dia
Definitivamente, no quarto dia do Festival é possível afirmar que de uma
maneira geral, há uma depressão geral. Os filmes não são “pra cima”. A maioria
é introspectivo, e muitos têm um perfil documental. Sem sombra de dúvida, para
mim, a grande surpresa foi Zombillenium, porque não esperava muito dele. Tenho “medo” de adaptações, mas a produção foi muito bem, e o filme tem tudo para ser
um sucesso. E também em termos de “ânimo” em relação às outras produções do
dia. Apesar dos personagens serem múmias, zumbis, a história é tem um viés mais
positivo, mais otimista, afinal o “herói” é o herói e alcança uma forma de happy
end.