Neste quarto dia no festival, assisti a dois longas-metragens e a sessão de Curtas Perspectivas 2.
Zombillenium
Essa produção belgo-francesa é baseada nos quadrinhos homônimos de Arthur de
Pins, é muita boa. Produção impecável: criação do roteiro - tem drama, romance,
ação, comédia, além de um pouco de terror -, personagens muito bem concebidos -
formas, cores e referência com o mundo real. Os cenários bem modelados de forma
que não "brigam" com os personagens, os seja, "realistas"
na medida certa. Os efeitos não foram exagerados e a trilha sonora de bom
gosto, também ajuda a dar corpo à história.
Não posso contar muito pois certamente deve chegar às telas do cinema... o
longa conta a história de um fiscal da prefeitura, que se transforma em zumbi,
quando estava dando uma “dura” em um parque de diversões temático, Zombilleniun.
O parque é na verdade um reduto de zumbis, vampiros e afins.
A Silent Voice
Este desenho animado também baseado em quadrinho, o mangá do mesmo nome de
Yoshitoki Ōima. Com personagens em estilo mangá tradicional - com aqueles olhos
bem grandes e "brilhosos" -, é um drama.
Ou melhor, vários dramas decorrentes de um comportamento de bullying sobre uma
menina surda. Em um pulo no tempo, os dramas perduram na adolescência, com mais
bullyings, tentativas de suicídio, arrependimentos, sentimento de culpa e
redenção. Não há nada na história ou na estética da animação que não pudesse
ser uma história em live-action. Cenários bem detalhados, como normalmente são
as produções japonesas, mas na animação é possível notar algumas falhas. O
roteiro poderia ser mais conciso e ter uma história menos longa, o que causa um
certo cansaço. Mas é um filme profundamente japonês, onde o dever fala sempre
mais alto.
Curtas da Sessão Perspectivas 2
Clair Obscure
Direção: Alan Bidard
País: França
Ano de realização: 2016
Duração: 4 min 15 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
Animação em preto e branco, com desenhos estilizados e traços largos. É um
drama com imagens do personagem que tem um círculo preto do peito, e procura se
livrar desse peso. Nessa busca, fundo e figura trocam de cor várias vezes. O
filme trata do tema do suicídio, e na cartela final comenta que a cada dez
dias, uma pessoa dá fim à vida, na Martinica.
Tiny Big
Direção: Lia Bertels
País: Bélgica
Ano de realização: 2017
Duração: 5 min 25 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D
Animação com personagens e elementos simples. Traço fino, estilizado, com
alguns elementos coloridos, outros em preto e branco. É uma sequência de cenas
de praia: na areia, pessoas jogando, pegadas sendo apagadas pelas ondas...
Aborda a questão mundana do homem, envolvido com coisas sem importância.
Half a Life
Direção: Tamara Shugaolu
País: Egito, EUA, Indonésia, Holanda
Ano de realização: 2017
Duração: 12 min 21 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D, live-action, outras
Curta feito em 2D, tipo recorte, mas que mistura imagem real e outras
técnicas. Conta a história de um jovem egípcio que vê um rapaz ser espancado
pela polícia. Tal fato inicia uma série de mudanças de atitude no rapaz, que se
torna mais ativo em lutar por um país melhor. Com cores contrastantes, traços
grossos, o filme representa bem a situação de insatisfação e de violência da
“Primavera Árabe” no Egito. Animação dura, alguns trechos são melhor animados
que outros.
Mammas hår (Cabelo da Mamãe)
Direção: Maja Arnekleiv
País: Noruega
Ano de realização: 2017
Duração: 5 min 27 s
Técnica(s) utilizada(s): Pixilation
Através de pixilation – animação de pessoas – conta-se a história de uma
família, cuja mãe teve câncer de mama, quando a diretora (irmã mais velha de
quatro meninas) tinha 16 anos. O filme mostra as meninas cortando o cabelo da
mãe. Pelas imagens e ao que tudo indica, não é um “pixilation” criado, mas
obtido através da escolha de alguns quadros, de um filme da família. Muito
corajoso e verdadeiro, é uma história que mostra que, mesmo nos piores
momentos, há coisas positivas.
Lupus
Direção: Carlos Gomes Salamanca
País: Colômbia, França
Ano de realização: 2016
Duração: 8 min 05 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D, Stop motion com massinha,
outras
Animação de visual sujo, conta a situação de um vigia que foi morto em um
ataque feito por cachorros em Bogotá. Usando desenho – ao que parece, sobre
imagens filmadas de câmeras de segurança – e imagens de televisão, manipuladas
e “grafitadas”, o diretor passa o clima sinistro da situação, onde se
contabilizam 600 mil cachorros vagando pelas periferias de Bogotá.
Roger Ballen’s Theatre of Apparition
Direção: Emma Calder
País: África do Sul, Reino Unido
Ano de realização: 2016
Duração: 5 min
Técnica(s) utilizada(s): 2D, recorte
Animação também sinistra, vizinha do terror. Tudo em preto e branco, com
predominância de preto, mostra diversas relações entre seres disformes, em tons
de cinza, texturizados, que se comem e fazem sexo. Alguns personagens lembram
as formas dos personagens do animador Phil Mulloy.
The Gap
Direção: Patrick Vanderbroeck
País: Bélgica. Holanda
Ano de realização: 2016
Duração: 14min 41 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
O curta começa com um visual branco, uma planície, e um personagem como um
boneco de blocos, todo quadrado, fechando alguns buracos no chão, com pequenos
blocos. Assim, o terreno fica todo liso e reto. Mas surge uma bola vermelha que
quica no chão, e descolando blocos quadrados e criando mais buracos. A história
é essa. A proposta é interessante, e pode-se imaginar diversas situações da
vida real que poderiam ser representadas, metaforicamente, pelo curta. Mas ele
é longo demais, o que faz com que ele perca a força. Mas foi bem animado.
Nos faltan
Direção: Emílio Ramos, Lúcia Gája
País: México
Ano de realização: 2016
Duração: 4 min 20 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D, 3D, live-action, outras
O curta fala do desaparecimento de 43 estudantes em Iguala, no México, em
2014. Pelo próprio motivo, também tem um visual sinistro com imagens do
subsolo, escuras, e de campo, que dão a impressão de um grande motion graphic.
Hucho Hucho
Direção: Juan Carve
País: Uruguai
Ano de realização: 2016
Duração: 5 min 17 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D
Animação minimalista, conta através de desenhos com manchas (sem contornos),
a história de um menino e seu avô (J), que lhe conta a história de um peixe que
volta ao lugar onde nasceu. Com um visual que lembra “O Menino e o Mundo” (Alê
Abreu, 2014), faz uma metáfora com o esquecimento e a vida.
Maacher Jhol – Peixe ao Curry
Direção: Abhishek Verna
País: Índia
Ano de realização: 2017
Duração: 12 min 04 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D
Com desenho arredondado de traços pretos grossos sobre fundo bege, o filme
mostra a relação de um jovem indiano que quer contar à família que não quer
casamentos arranjados, pois é homossexual. Para facilitar o seu objetivo, Lalit
cozinha o prato preferido do pai e o convida para jantar. A animação com humor
sutil, mostra nos detalhes, a situação do rapaz para conseguir o seu objetivo.
Panorama do dia
Definitivamente, no quarto dia do Festival é possível afirmar que de uma
maneira geral, há uma depressão geral. Os filmes não são “pra cima”. A maioria
é introspectivo, e muitos têm um perfil documental. Sem sombra de dúvida, para
mim, a grande surpresa foi Zombillenium, porque não esperava muito dele. Tenho “medo” de adaptações, mas a produção foi muito bem, e o filme tem tudo para ser
um sucesso. E também em termos de “ânimo” em relação às outras produções do
dia. Apesar dos personagens serem múmias, zumbis, a história é tem um viés mais
positivo, mais otimista, afinal o “herói” é o herói e alcança uma forma de happy
end.