No terceiro dia de exibição de
animações em Annecy, assisti a dois longas-metragens e uma sessão de curtas.
Animal Crackers
Direção : Tony Bancroft, Scott
Christian Sava, Jaime Maestro
País : EUA, Espanha, China
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 34 mn 27 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
Este longa em 3D conta a história de
uma família de circo. O irmão mais velho, Horatio é ambicioso (quer dinheiro e
fama), enquanto o mais novo, Bufalo Bob, é mais emocionalmente ligado às coisas
do circo. Um dia uma bela jovem, Talia, vem fazer parte da trupe, através da
cigana Esmeralda. A jovem se apaixona por Bob, apesar das investidas de Horatio,
e eles acabam se casando. Esmeralda dá um presente ao casal: uma caixa de
biscoitos com formas de animais, e diz que eles são mágicos.
Há um salto de tempo em que aparece o sobrinho dos Huntingtons, Owen, no circo, conhecendo Zoe, ainda criança.
Há um salto de tempo em que aparece o sobrinho dos Huntingtons, Owen, no circo, conhecendo Zoe, ainda criança.
Eles crescem e também se casam, mas com a promessa do rapaz para o pai de Zoe, de que ele vai largar o circo e trabalhar em sua fábrica de comida para cães.
(Essa parte é um pouco confusa... Os personagens de Bob, tio mais novo, e do
sobrinho, Owen, são muito parecidos. As elipses de tempo também não são muito
bem pontuadas, então ao longo do filme é que se vai entendendo quem é quem).
De novo há um outro pulo de tempo onde o casal, Owen e Zoe, já tem uma filha, mas ele ainda trabalha com o sogro e eles não se entendem muito bem. O rapaz é provador dos biscoitos para cachorro. Não dá para culpá-lo por não estar muito feliz.
É quando o seu tio, Horatio, por acidente põe fogo em parte do circo. Isso causa a morte de seu irmão e da cunhada.
Na cerimônia de despedida toda a
família se encontra e acontece uma briga generalizada pois Horatio quer comandar
o circo, mas todos os circenses querem que Owen assuma a direção. Ele se
esquiva, porém recebe do palhaço Chesterfield, a caixa com biscoitos mágicos
que os tios que o criaram receberam de presente de casamento, e os ajudou no
sucesso do circo.
Bom daí acontece uma série de situações engraçadas de perseguição e de sabotagem na fábrica de biscoitos, com ótima utilização da linguagem da animação para gags. Apesar da pouca clareza inicial do roteiro, depois o filme ganha força e segue bem. É divertido, mais voltado para a família e crianças, com estética 3D cartoon, tão bem utilizada pela Pixar.
Bom daí acontece uma série de situações engraçadas de perseguição e de sabotagem na fábrica de biscoitos, com ótima utilização da linguagem da animação para gags. Apesar da pouca clareza inicial do roteiro, depois o filme ganha força e segue bem. É divertido, mais voltado para a família e crianças, com estética 3D cartoon, tão bem utilizada pela Pixar.
Loving Vincent
Direção : Dorota Kobiela, Hugh
Welchman
País : Polônia, Reino Unido
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 34 mn 29 s
Técnica(s) utilizada(s): pintura sobre tela
Longa de animação em pintura óleo sobre tela que é encantador. Não somente pelo
visual, mas também pela história. Ele parte do momento posterior a morte de Van
Gogh, com as pessoas que conviveram com ele, e que ele em vida, retratou em seus
quadros. Assim, é possível conhecer detalhes de sua morte, assim como conhecer
também um pouco mais sobre o próprio pintor.
Tudo começa com uma carta que deve ser entregue a Theo, irmão de Vincent, que o
carteiro pede a seu filho para ir entregá-la mesmo depois da morte de Van Gogh.
Ele então vai à procura de Theo, mas descobre que ele também morreu. Em contato
com pessoas que conviveram os últimos dias do pintor, fica com dúvidas se Van
Gogh se matou mesmo, ou não.
Com um roteiro bem construído, o filme prende, criando suspense, mas não chega
a dar uma resposta definitiva à dúvida sobre o suicídio. A não ser a própria
certeza de Van Gogh: ele não esperava glória, mas amava pintar, acima de tudo.
Como técnica é um filme maravilhoso. A pintura a óleo, baseada nos quadros do
pintor dá um show à parte no filme. É lindo ver as pincelas flamejantes, que me
fizeram lembrar de outro pintor, El Greco.
Há corte entre as sequências, mas muitas passagens são feitas através da pintura
o que transforma as elipses de tempo em ações visíveis.
A única ressalva que percebi foi a largura das pinceladas do fundo, das
paisagens, baseadas nas obras, serem em muitos casos mais longas e espessas que
as dos personagens. De acordo com a perspectiva, o que vemos menor, é porque
está longe, então, o efeito contrário na imagem cria um ruído.
Ainda falando sobre o visual do filme, funcionou muito bem a escolha da
estética das pinturas de Van Gogh, para retratar a realidade da história,
enquanto para mostrar as lembranças dos personagens, sobre o pintor, foi usada
uma pintura em tons de cinza, bem naturalista, como uma imagem fotográfica.
Todo o filme teve uma base de rotoscopia, onde as ações são filmadas com atores
e depois, animadas sobre o material filmado. Porém tal fato não desmerece o
trabalho realizado.
De qualquer maneira é sem dúvida
belíssimo filme e um grande candidato na competição.
Sessão 3 de Curtas-metragens
País : Grécia
Ano de produção: 2016
Duração : 10 mn 12 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D
Animação em 3D que usa e aproveita bem os recursos da técnica criando um
ambiente surrealista. Baseada nas pinturas de Theodoros Pantaleon, aborda a
questão do feminino, da repressão, da luta contra o status quo, e mesmo a questão do corpo feminino, de forma
metafórica. Muito boa.
Essa projeção foi em 3D
estereoscópico.
Direção : Dario Imbrogno
País : Itália
Ano de produção: 2016
Duração : 03 mn 55 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion
Uma das três animações que mostra o fora de quadro, ou seja as câmeras e
equipamentos do fazer, do set de uma animação Stop motion. Também aborda a
repressão à mulher.
Começa com uma estrutura de boneca
de stop motion caída e quebrada, mas presa pela cintura por um fio, ligado a um
apoio no cenário.
A história "volta atrás" e vê-se a boneca se debatendo com vários
elementos, inclusive com as câmeras e spots de luz, para sair do ambiente.
Animação e roteiro inteligentes, e com a duração certa.
Direção : Niki Lindroth Von Bahr
País : Suéciaa
Ano de produção: 2016
Duração : 14 mn 45 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop
motion: de objetos, massinha e outras
Animação fala sobre solidão e a persistência
de forma cômica e musical. Em Stop motion com bonecos antropomorfizados, ela apresenta
cinco ambientes internos - um hotel (com peixes), um fast-food (com ratinhos)
um call center de uma empresa de seguros (com macacos), um supermercado (um
cachorro) e um quarto de hotel (com peixe). Cada grupo canta e dança como numa
sucessão emocional - solidão, estímulo e persistência.
Muito bem animados, personagens e ambientes foram bem confeccionados. Se a parte do call center fosse mais curta, a animação teria mais força. Mas é um bom trabalho.
Muito bem animados, personagens e ambientes foram bem confeccionados. Se a parte do call center fosse mais curta, a animação teria mais força. Mas é um bom trabalho.
Direção : Max Porter, Ru Kuwahata
País : França
Ano de produção: 2017
Duração : 05 mn 30 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop
motion: com objetos e bonecos
Conta a relação entre pai e filho através da metodologia na arrumação de malas
para viagem. Stop motion de curta duração, mas extremamente inteligente no
objetivo do roteiro. É uma comédia.
Direção: Vladimir Mavounia-Kouka, Marie Amachoukeli
País : França
Ano de produção: 2016
Duração : 11 min 42 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D
Animação em P&B faz uma crítica
sobre a substituição de partes humanas por robóticas.
Para reconquistar a jovem amada - meio robô (com formas geométricas) depois de
um acidente – um rapaz consegue ser o premiado para uma cirurgia do mesmo
gênero para "se atualizar". Apesar da boa proposta, não conquista.
Direção : Ülo Pikkov
País : Estônia
Ano de produção: 2016
Duração : 10 mn 45 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop
motion com bonecos
A animação começa com um grande
plano de uma grande mesa com móveis em miniatura (como uma casa de bonecas), e
as câmeras e luzes usadas na animação. Fixando em um dos armários, vê-se as
portas se abrirem e sair de lá uma boneca, uma menina de seus 9 anos. Ela anda
pelo cenário e mexe nas coisas de forma curiosa, como que conhecendo ou
relembrando. Até que acontece uma grande explosão.
Animação bem-feita, intimista, criativa
e forte - como a maioria do Leste Europeu. Sem falas, ela vai envolvendo pois
há muitos detalhes em cena. E espera-se saber quem é aquela menina. Baseado em
uma história real, o que dá mais foça à animação.
Direção : Steven Woloshen
País : Canada
Ano de produção: 2016
Duração : 03 mn 58 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho
sobre película
Animação alegre, colorida de
pintura diretamente sobre a película. É impossível não lembrar de Norman
McLaren! E isso sem qualquer conotação pejorativa para o autor. Super bem
sincronizado, com um jazz muito bom (!), essa animação não narrativa tem um o ritmo
e a duração no ponto certo.
Direção : Michael Cusack
País : Australie
Ano de produção: 2016
Duração : 13 mn 16 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop
motion com bonecos
Outra animação que começa mostrando
o set de animação.
Mostra um personagem masculino de
meia idade guardando as coisas da casa em caixas. Conforme ele pega nos
objetos, lembra de sua mãe, e entende-se que ela já morreu. A realidade das
feições dos personagens (bem naturalista), suas expressões, a dureza do tema, e
os detalhes do cenário, criam uma atmosfera no filme, que “pega” o público. As
passagens para as cenas das lembranças, muitas vezes acontecem com o movimento
de câmera, que já enquadra a mãe fazendo seus comentários diretos, perspicazes
e até mesmo frios, sobre a sua própria condição de doente. O que também cria
momentos cômicos. Um ótimo roteiro.
Direção : Steven Subotnick
País : EUA
Ano de produção: 2017
Duração : 03 mn 42 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho
sobre papel, 2D
Esta animação não narrativa, começa
com rabisco em lápis que se movem. Até começarem a se formar imagens, entre
elas um peixe. Ao final, a tela aparece com vários espaços como um tabuleiro de
xadrez, ocupados por rabiscos, peixe e outras formas. Sonoramente é possível
identificar sons de água corrente, de rádio e de ruído diversos. No início, lembra
o Free Radicals (1959), de Len Lye,
mas talvez, exatamente por isso, pessoalmente, ela não me atraiu, e a trilha
sonora não ajudou na conquista – ao contrário do trabalho de Len Lye.
Resumo das exibições:
Foi uma das melhores sessões que
assisti. Mostra a diversidade de propostas e execução de técnicas, e como
“velhas” formas podem ser revisadas. Não foi uma sessão “leve”, repleta de
comédias, mas é também um reflexo do momento em que se vive.
Porém, enquanto obras de animação,
no geral foram de alto nível técnico, artístico e de roteiro.