29 de março de 2015

História do Cinema de Animação – Os Brinquedos Ópticos (4ª Parte)

Flipbook ou Livro Mágico
Nas últimas semanas apreciamos um pouco do desejo do homem em dar movimento a seus desenhos estáticos, conhecemos alguns dos precedentes do cinema de animação como os desenhos rupestres, o teatro de sombras chinesas e a lanterna mágica. Além disso, vimos como uma peculiaridade do olho humano – a persistência retiniana ou persistência da visão – contribuiu com a aspiração ao movimento das imagens.

Agora iremos conhecer as invenções baseadas na persistência da visão, os brinquedos e gadgets que suscitavam, por meio de truques óptico-mecânicos, a ilusão do movimento. Os brinquedos ópticos foram de grande importância para o cinema de animação. Além disso, alguns deles são utilizados até hoje como singela forma de entretenimento.

Os dispositivos ópticos-mecânicos, surgiram a partir da década de 1820, a partir da teoria da persistência da visão (fração de segundos em que a imagem permanece na retina). Estes brinquedos, que permitem a ilusão do movimento, tinham como intuito principal o entretenimento e a distração. Cada dispositivo criado tinha como base o funcionamento dos brinquedos precursores. O funcionamento então era aperfeiçoado, permitindo um aprimoramento maior com a ilusão do movimento.

Ilustração das imagens frente e verso do disco do taumatroscópio

Em 1825, surgiu o taumatroscópio, que consiste em um disco de papelão com uma imagem na frente e no verso, mantidos entre dois pedaços de cordões. Ao torcer o cordão o disco girava rapidamente, criando a impressão de uma única imagem no disco. Era muito comum utilizar as imagens de uma gaiola vazia e um pássaro, e no rodopio do disco, víamos a ave presa na gaiola.

Ilustração do fenaquistoscópio

Em 1833, o físico Joseph-Antoine Plateau com seus filhos inventou o fenaquistoscópio, aparelho formado por dois discos: um com frestas e o outro com várias figuras desenhadas em posições diferentes, que ganhava movimento quando os discos eram acionados. Para a produção dessa sensação do movimento eram necessárias dez imagens fixas por segundo. A visualização das imagens dos movimentos só era possível ao olhar através das aberturas do disco com frestas do aparelho. O fenaquistoscópio ganhou bastante popularidade e foi amplamente comercializado na época.
Zootroscópio ou daedalum 
O britânico William George Horner utilizando do mesmo princípio do fenaquistoscópio, em 1834, construiu o zootroscópio, também conhecido como daedalum ou roda da vida. A sequências de imagens desenhadas eram colocadas num tambor com fendas. Ao observar através das fendas, as imagens ganhavam vida quando o tambor girava.

Praxinoscópio em movimento

Em 1877, Émile Reynaud criou o praxinoscópio, que também era uma variante do zootroscópio. A diferença fundamental do praxinoscópio, consistia de um jogo de espelhos no interior do aparelho que criava um cenário ao fundo e a ilusão das figuras animadas na frente. Émile Reynaud, com a combinação do praxinoscópio e lanternas, foi o primeiro a criar curtas sequências de ação dramática com imagens animadas.
Reynaud e sua exibição de imagens animadas

Contudo, o mais popular dos brinquedos ópticos é o livro mágico, ou popularmente conhecido flipbook. Este invento de ilusão de ótica surgiu em 1868, e devido a sua simplicidade rapidamente se difundiu, ganhando seu espaço pelo mundo. O flipbook é um bloco de folhas, tal qual um pequeno livro, onde se desenha uma sequência de imagens, folha a folha, como quadros sobrepostos. Ao repassar, essas folhas rapidamente, é criada a ilusão de movimento com os desenhos sequenciados. Alguns teóricos do cinema de animação afirmam que o flipbook ainda é muito utilizado na produção de filmes animados. Isso acontece principalmente pelo fácil manuseio e a forma prática de visualizar o tempo e a velocidade da animação sem a utilização das câmeras.

Flipbook Sonic

Durante a premiação do Oscar em 2010 o diretor premiado Peter Docter do filme animado "UP – Altas Aventuras" (2009), ao receber o Oscar de melhor animação de 2009, pronunciou da seguinte forma: “Eu nunca imaginei que fazer um flipbook no meu livro de matemática da terceira série ia me levar a isto”. Isso mostra a relevância que o singelo flipbook tem para os animadores, independente da tecnologia presente nas câmeras e nos programas de edição. E principalmente a sua importância para história do cinema de animação.

E tenho certeza que todo admirador do cinema animado já teve a curiosidade de brincar com um flipbook, mesmo que seja nas folhas dos cadernos escolares ou até mesmo como uma simples diversão, ainda hoje constrói seu flipbook, só para visualizar a ilusão do movimento em sua própria criação.