22 de junho de 2017

Diário Animado - Annecy 2017 - Dia III

No terceiro dia de exibição de animações em Annecy, assisti a dois longas-metragens e uma sessão de curtas.

Animal Crackers

Direção : Tony Bancroft, Scott Christian Sava, Jaime Maestro
País : EUA, Espanha, China
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 34 mn 27 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D

Este longa em 3D conta a história de uma família de circo. O irmão mais velho, Horatio é ambicioso (quer dinheiro e fama), enquanto o mais novo, Bufalo Bob, é mais emocionalmente ligado às coisas do circo. Um dia uma bela jovem, Talia, vem fazer parte da trupe, através da cigana Esmeralda. A jovem se apaixona por Bob, apesar das investidas de Horatio, e eles acabam se casando. Esmeralda dá um presente ao casal: uma caixa de biscoitos com formas de animais, e diz que eles são mágicos.
Há um salto de tempo em que aparece o sobrinho dos Huntingtons, Owen, no circo, conhecendo Zoe, ainda criança.

Eles crescem e também se casam, mas com a promessa do rapaz para o pai de Zoe, de que ele vai largar o circo e trabalhar em sua fábrica de comida para cães.
(Essa parte é um pouco confusa... Os personagens de Bob, tio mais novo, e do sobrinho, Owen, são muito parecidos. As elipses de tempo também não são muito bem pontuadas, então ao longo do filme é que se vai entendendo quem é quem). 

De novo há um outro pulo de tempo onde o casal, Owen e Zoe, já tem uma filha, mas ele ainda trabalha com o sogro e eles não se entendem muito bem. O rapaz é provador dos biscoitos para cachorro. Não dá para culpá-lo por não estar muito feliz.
É quando o seu tio, Horatio, por acidente põe fogo em parte do circo. Isso causa a morte de seu irmão e da cunhada.

Na cerimônia de despedida toda a família se encontra e acontece uma briga generalizada pois Horatio quer comandar o circo, mas todos os circenses querem que Owen assuma a direção. Ele se esquiva, porém recebe do palhaço Chesterfield, a caixa com biscoitos mágicos que os tios que o criaram receberam de presente de casamento, e os ajudou no sucesso do circo.
Bom daí acontece uma série de situações engraçadas de perseguição e de sabotagem na fábrica de biscoitos, com ótima utilização da linguagem da animação para gags. Apesar da pouca clareza inicial do roteiro, depois o filme ganha força e segue bem. É divertido, mais voltado para a família e crianças, com estética 3D cartoon, tão bem utilizada pela Pixar.

Loving Vincent

Direção : Dorota Kobiela, Hugh Welchman
País : Polônia, Reino Unido
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 34 mn 29 s
Técnica(s) utilizada(s): pintura sobre tela

Longa de animação em pintura óleo sobre tela que é encantador. Não somente pelo visual, mas também pela história. Ele parte do momento posterior a morte de Van Gogh, com as pessoas que conviveram com ele, e que ele em vida, retratou em seus quadros. Assim, é possível conhecer detalhes de sua morte, assim como conhecer também um pouco mais sobre o próprio pintor.

Tudo começa com uma carta que deve ser entregue a Theo, irmão de Vincent, que o carteiro pede a seu filho para ir entregá-la mesmo depois da morte de Van Gogh. Ele então vai à procura de Theo, mas descobre que ele também morreu. Em contato com pessoas que conviveram os últimos dias do pintor, fica com dúvidas se Van Gogh se matou mesmo, ou não.

Com um roteiro bem construído, o filme prende, criando suspense, mas não chega a dar uma resposta definitiva à dúvida sobre o suicídio. A não ser a própria certeza de Van Gogh: ele não esperava glória, mas amava pintar, acima de tudo.

Como técnica é um filme maravilhoso. A pintura a óleo, baseada nos quadros do pintor dá um show à parte no filme. É lindo ver as pincelas flamejantes, que me fizeram lembrar de outro pintor, El Greco.
Há corte entre as sequências, mas muitas passagens são feitas através da pintura o que transforma as elipses de tempo em ações visíveis.

A única ressalva que percebi foi a largura das pinceladas do fundo, das paisagens, baseadas nas obras, serem em muitos casos mais longas e espessas que as dos personagens. De acordo com a perspectiva, o que vemos menor, é porque está longe, então, o efeito contrário na imagem cria um ruído.

Ainda falando sobre o visual do filme, funcionou muito bem a escolha da estética das pinturas de Van Gogh, para retratar a realidade da história, enquanto para mostrar as lembranças dos personagens, sobre o pintor, foi usada uma pintura em tons de cinza, bem naturalista, como uma imagem fotográfica. Todo o filme teve uma base de rotoscopia, onde as ações são filmadas com atores e depois, animadas sobre o material filmado. Porém tal fato não desmerece o trabalho realizado.
De qualquer maneira é sem dúvida belíssimo filme e um grande candidato na competição.

Sessão 3 de Curtas-metragens

Aenigma


Direção : Antonios Ntoussias, Aris Fatouros
País : Grécia
Ano de produção: 2016
Duração : 10 mn 12 s
Técnica(s) utilizada(s): 3D

Animação em 3D que usa e aproveita bem os recursos da técnica criando um ambiente surrealista. Baseada nas pinturas de Theodoros Pantaleon, aborda a questão do feminino, da repressão, da luta contra o status quo, e mesmo a questão do corpo feminino, de forma metafórica. Muito boa.
Essa projeção foi em 3D estereoscópico.

Ossa

Direção : Dario Imbrogno
País : Itália
Ano de produção: 2016
Duração : 03 mn 55 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion

Uma das três animações que mostra o fora de quadro, ou seja as câmeras e equipamentos do fazer, do set de uma animação Stop motion. Também aborda a repressão à mulher.
Começa com uma estrutura de boneca de stop motion caída e quebrada, mas presa pela cintura por um fio, ligado a um apoio no cenário.
A história "volta atrás" e vê-se a boneca se debatendo com vários elementos, inclusive com as câmeras e spots de luz, para sair do ambiente. Animação e roteiro inteligentes, e com a duração certa.

Min Börda

Direção : Niki Lindroth Von Bahr
País : Suéciaa
Ano de produção: 2016
Duração : 14 mn 45 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion: de objetos, massinha e outras
Animação fala sobre solidão e a persistência de forma cômica e musical. Em Stop motion com bonecos antropomorfizados, ela apresenta cinco ambientes internos - um hotel (com peixes), um fast-food (com ratinhos) um call center de uma empresa de seguros (com macacos), um supermercado (um cachorro) e um quarto de hotel (com peixe). Cada grupo canta e dança como numa sucessão emocional - solidão, estímulo e persistência.
Muito bem animados, personagens e ambientes foram bem confeccionados. Se a parte do call center fosse mais curta, a animação teria mais força. Mas é um bom trabalho.

Negative Space


Direção : Max Porter, Ru Kuwahata
País : França
Ano de produção: 2017
Duração : 05 mn 30 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion: com objetos e bonecos

Conta a relação entre pai e filho através da metodologia na arrumação de malas para viagem. Stop motion de curta duração, mas extremamente inteligente no objetivo do roteiro. É uma comédia.

I Want Pluto to Be a Planet Again


Direção: Vladimir Mavounia-Kouka, Marie Amachoukeli
País : França
Ano de produção: 2016
Duração : 11 min 42 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D

Animação em P&B faz uma crítica sobre a substituição de partes humanas por robóticas.
Para reconquistar a jovem amada - meio robô (com formas geométricas) depois de um acidente – um rapaz consegue ser o premiado para uma cirurgia do mesmo gênero para "se atualizar". Apesar da boa proposta, não conquista.

Tühi Ruum



Direção : Ülo Pikkov
País : Estônia
Ano de produção: 2016
Duração : 10 mn 45 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion com bonecos

A animação começa com um grande plano de uma grande mesa com móveis em miniatura (como uma casa de bonecas), e as câmeras e luzes usadas na animação. Fixando em um dos armários, vê-se as portas se abrirem e sair de lá uma boneca, uma menina de seus 9 anos. Ela anda pelo cenário e mexe nas coisas de forma curiosa, como que conhecendo ou relembrando. Até que acontece uma grande explosão.

Animação bem-feita, intimista, criativa e forte - como a maioria do Leste Europeu. Sem falas, ela vai envolvendo pois há muitos detalhes em cena. E espera-se saber quem é aquela menina. Baseado em uma história real, o que dá mais foça à animação.

Casino



Direção : Steven Woloshen
País : Canada
Ano de produção: 2016
Duração : 03 mn 58 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre película

Animação alegre, colorida de pintura diretamente sobre a película. É impossível não lembrar de Norman McLaren! E isso sem qualquer conotação pejorativa para o autor. Super bem sincronizado, com um jazz muito bom (!), essa animação não narrativa tem um o ritmo e a duração no ponto certo.

After All

Direção : Michael Cusack
País : Australie
Ano de produção: 2016
Duração : 13 mn 16 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion com bonecos

Outra animação que começa mostrando o set de animação.
Mostra um personagem masculino de meia idade guardando as coisas da casa em caixas. Conforme ele pega nos objetos, lembra de sua mãe, e entende-se que ela já morreu. A realidade das feições dos personagens (bem naturalista), suas expressões, a dureza do tema, e os detalhes do cenário, criam uma atmosfera no filme, que “pega” o público. As passagens para as cenas das lembranças, muitas vezes acontecem com o movimento de câmera, que já enquadra a mãe fazendo seus comentários diretos, perspicazes e até mesmo frios, sobre a sua própria condição de doente. O que também cria momentos cômicos. Um ótimo roteiro.

Strange Fish

Direção : Steven Subotnick
País : EUA
Ano de produção: 2017
Duração : 03 mn 42 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel, 2D
Esta animação não narrativa, começa com rabisco em lápis que se movem. Até começarem a se formar imagens, entre elas um peixe. Ao final, a tela aparece com vários espaços como um tabuleiro de xadrez, ocupados por rabiscos, peixe e outras formas. Sonoramente é possível identificar sons de água corrente, de rádio e de ruído diversos. No início, lembra o Free Radicals (1959), de Len Lye, mas talvez, exatamente por isso, pessoalmente, ela não me atraiu, e a trilha sonora não ajudou na conquista – ao contrário do trabalho de Len Lye.

Resumo das exibições:
Foi uma das melhores sessões que assisti. Mostra a diversidade de propostas e execução de técnicas, e como “velhas” formas podem ser revisadas. Não foi uma sessão “leve”, repleta de comédias, mas é também um reflexo do momento em que se vive.

Porém, enquanto obras de animação, no geral foram de alto nível técnico, artístico e de roteiro.

21 de junho de 2017

Diário Animado - Annecy 2017 - Dia II



Antes de começar a falar dos filmes, vou comentar e contar sobre algumas coisas até para entenderem mais sobre o Festival. Ele é muito grande, no sentido de muitas sessões e de vários tipos. Competitivas (5) e não competitivas (6), retrospectivas, sessão do país convidado (homenageado, este ano é a China), sessões ao ar livre, entre outras (6), sem falar nas sessões voltadas para o Mifa, o mercado de animação... sessões sobre projetos de animação, produções que vão para as TVs, master class, making off, etc...

É humana e cronologicamente impossível ver tudo em sete dias. Então eu optei por ver todas as sessões competitivas de longas e curtas-metragens. Os locais são um pouco distantes uns dos outros de 10 a 40 min, e é preciso chegar com pelo menos 30min de antecedência, para pegar um lugar razoável nas salas de exibição. Dez minutos antes de começar, a reserva que você fez on-line, através da credencial – comprada, de jornalista, negócios, participante, convidado, etc – , expira, e qualquer outra pessoa interessada pode entrar. Há uma fila só para isso.

Então não é muito fácil montar um horário satisfatório. Porém, eu ainda consegui encaixar mais as duas sessões de curtas-metregens “Perspectivas”, uma de curtas-metragens “Off-Limits”, e uma de longa-metragem fora de competição (que comentei ontem), e uma sessão de Annecy Classics. No total são 19 sessões, sempre com mais de uma hora, mesmo as de curtas.

Seguindo então meu diário, no segundo dia de exibição de animações em Annecy, assisti a dois longas-metragens: 

Big Fish & Begonia 


Diretores: Xuan (Tidus) LIANG, Chun (Breath) ZHANG
País: China
Ano de produção: 2016
Duração: 01 h 45 min
Técnica: Desenho sobre papel, 2D, 3D, pintura sobre vidro, outras

O filme conta uma história de magia, de que todo ser humano tem uma alma de peixe. Em um mundo “paralelo” onde seres fantásticos e outros aparentemente humanos têm poderes de X-Men. Nele há um rito de passagem para os jovens que se transformam em grandes peixes, que vão para o mundo dos humanos, viver nos mares, e depois retornam ao seu mundo. Só que a protagonista a jovem, Chun, se envolve em uma rede de pesca durante a sua aventura como peixe. Kun, um humano que a vê presa, vai salvá-la, mas perde a vida. Rompendo as regras que separam os dois mundos, Chun não se conforma com a morte de Kun, que deixa a irmãzinha desamparada. Ela então, ao voltar para o seu mundo, troca metade de sua vida para conseguir resgatar Kun. Assim, este revive em um corpo de peixe, que ela tem que cuidar até que cresça o suficiente para sua alma encarnar no seu corpo humano. Assim começa a história de amor, reparação e sacrifício.

Big Fish & Begonia é uma produção bem cuidada. Bem colorido, o filme trabalha com 2d e 3d de forma extremamente inteligente. Não se percebe qualquer ruído entre as duas técnicas  – um choque visual, de que algo não encaixou muito bem.

Como a grande maioria das produções orientais, para nós ocidentais, o filme parece ser um pouco longo sem necessidade. O ritmo é diferente. Os grandes planos, as inversões de câmera com imagens do céu, a partir do mar, que lembram outro filme, só que de live-action, A Vida de Pi (2012, Ang Lee).

Apesar de sua estética ser a de anime, como tradicionalmente são as animações japonesas, isso não é admitido pelos diretores que comentam que utilizaram várias referências culturais chinesas. Mas tal semelhança não desmerece o filme, o contrário, particularmente acho que favorece pois é uma estética bem aceita e com um público numeroso.


Lou Over the Wall 


Diretor: Masaaki YUASA
País: Japão
Ano de produção: 2017
Duração: 01 h 52 min
Técnica: 2D Computer

Kai é um rapaz solitário que vi com o pai e o avô, em uma pequena cidade que vive da pesca. Ele gosta de música, mas é arredio. O pai cobra seu empenho na escola, seus colegas, para que ele faça parte de uma banda, porém ele mesmo só curte fazer sons com seu laptop. Até que em um momento ele acaba cedendo aos colegas e topa encontrá-los para tocarem. Aí é que surge uma pequena sereia. Como uma criança, ela é muito alegre e que ama o som das músicas, pois suas nadadeiras se transformam em pernas e pés, e ela não para de dançar.

É um filme voltado para o público mais jovem. Colorido e movimentado, em termos de roteiro é um pouco confuso. Há momentos dramáticos e outros de puro videoclipe! E é engraçado exatamente por esses contrastes. Não apresenta aquele cuidado e detalhamento dos estúdios Ghibli, mas esse despojamento também se torna visualmente interessante. A realização de certos movimentos e metamorfoses é mais distorcida, assim como os momentos de lembrança dos personagens. Estes parecem desenhos de criança, áreas de manchas de cores vibrantes e sem contornos.  Diferente do filme anterior, Lou Over the Wall é menos ambicioso, enquanto história, mas também apresenta como elemento principal o peixe.

Aliás, percebe-se que é o ano da China, mas também é do peixe, em Annecy 2017!

Logo em seguida, assisti a sessão 1 de curtas competitivos com os seguintes filmes:


Black Barbie

Direção : Comfort ARTHUR
País : Gana
Ano de produção: 2016
Duração: 03 min 36 s
Técnica: 2D

Curta ganense, e que apesar do nome, é dirigido por uma mulher. Com um visual, que podemos chamar de naïf, Confort conta suas próprias experiências enquanto mulher negra, que precisa viver (no sentido de obrigação, não tem como fugir) com um modelo de beleza estereotipado, e no qual não se encaixa.


SAMT (Silence)



Direção : Chadi AOUN
País : Líbano
Ano de produção: 2016
Duração: 15 min 22 s
Técnica: 2D e outras técnicas

O curta conta a história de um homem “meio” gato (os olhos e o comportamento são de gato), que vive em uma cidade censurada, vigiada e em escombros. Reparem que o filme é libanês. Ele vive só, um pouco entediado, deprimido. Até que vê uma dançarina, dançando na rua, que é logo recolhida pelas forças de segurança do local. A dança mexe com ele. Um outro dia à noite, ele encontra um bailarino, dançando no alto de um prédio. Dançando, este o “seduz” para dançar também (“rola um clima” também). Bem não vou contar o resto. A animação é em estilo manga, e um protesto contra as ditaduras, mas também … uma crítica contra as invasões americanas no Oriente Médio – é preciso ver o filme com atenção.

Inhibitum


L'ATELIER COLLECTIF
País : Belgique
Ano de produção: 2016
Duração: 08 min 12 s
Técnica: Techniques diverses

Essa animação coletiva belga é muito boa. “Inhibitum” quer dizer “proibido”, e fala de diversos problemas atuais, que desde o final do século XIX poderiam ter sido evitados, mas não o foram por interesses econômicos. Cada história foi animada com uma técnica diferente, o que torna o curta, como um todo, mais rico e interessante. Essa vale a pena assistir mesmo!


Corp.


Pablo POLLEDRI
País : Argentina
Ano de produção: 2016
Duração: 09 min
Técnica: 2D

Uma animação “de los hermanos” que começa simples, linha preta sobre branco, e termina em 3D, e de uma contundência admirável. Quase um infográfico animado, ela conta como um pequeno negócio se torna uma holding! E conta mesmo, com requintes de realidade impressionantes.

Pela simplicidade do desenho, “lembra” os do Don Hertzfeldt. Uma ótima animação, com todos as características de um projeto bem estruturado com um roteiro crítico impecável.

Amor, nuestra prision


Direção : Carolina CORRAL
País : México
Ano de produção: 2016
Duração: 05 min 50 s
Técnica: Desenho sobre papel, recorte, 2D, outras

Curta depoimento, relata a relação de mulher que concordam em ter um casamento com prisioneiros condenados. A situação de abandono, violência e de menos valia fica marcada com uma animação de visual sujo, contrastante e com elementos da vida real. Depoimentos feitos com vozes femininas, ancoram as histórias com as imagens. O assunto não é “fofinho”. Quem acha que animação é coisa de criança, não sabe de nada…


Ethnophobia



Direção : Joan ZHONGA
País : Albânia e Grécia
Ano de produção: 2016
Duração: 14 min 18 s
Técnica: Stop motion com massinha

Conta uma história já batida, mas que infelizmente, nunca sai de “moda”. Através de personagens de formas iguais, bem concebidos, divididos em reinos distintos, competem pela posse de uma caça. Mas não aceitam bem os que tem cores diferentes das deles – azul, amarelo e vermelho. De forma cômica, mas bem representativa, tentam de maneiras diversa transformar os “outros coloridos” em azul, amarelo e vermelho… mas é um fracasso.
Bem animado, aproveitando as características da massinha, o filme diverte e passa a mensagem.

The Ultimate Guide to Inspiration



Direção : Daniela URIBE, Francisco MARQUEZ
País : Espanha, Venezuela
Ano de produção: 2016
Duração: 02 mn 41 s
Técnica: 2D

Com desenhos que lembram as ilustrações de uma cor das propagandas americanas da década de 1950, a animação aborda filosoficamente – com narração em voz de off – a inspiração. A estética dos desenhos vai mudando ao longo do filme – tornam-se mais simples, as vezes coloridas, outras só ficam no traço. É bem animado, mas não é uma produção que “prenda” a atenção.


Frontera



Direção : Fabián GUAMANÍ ALDAZ
País : Equador
Ano de produção: 2017
Duração: 07 min 19 s
Técnica: 2D

Animação de um outro vizinho nosso, Frontera conta a situação que acontece em região de fronteira entre países que enfrentam estados de revolução ou guerra.

Os personagens têm um desenho minimalista, mas passam a emoção. Animação é econômica, quero dizer, ele é pouco animado. Foram bem aproveitados o movimento de câmera, os cortes e a variação de planos.


Slovo (Farewell)



Leon VIDMAR
País : Eslovênia
Ano de produção: 2016
Duração: 05 min 51 s
Técnica: Marionnettes

Filme eslovaco com os personagens, os bonecos, impressionantemente bem feitos – a tela grande não esconde nada! Super bem animado, conta a história de um rapaz que relembra a sua infância quando pescava com o avô (olha o peixe de novo!). Exatamente por isso o roteiro foi construído intercalando essas imagens, do presente e do passado, com passagens utilizando animação e efeitos que funcionam muito bem.


Yaman



Direção : Amer ALBARZAWI
País : Síria
Ano de produção: 2016
Duração: 04 min 01 s
Técnica: Stop motion com massinha, Pixilation

Filme de impacto. Conta a história de um órfão sírio, cujos pais foram mortos na guerra. É o próprio menino que faz o personagem. Através do stop motion vai sendo mostrado como a vida do menino (Yaman) e como e porque se modificou.


It Is My Fault



Direção : Liu SHA
País : China
Ano de produção: 2016
Duração: 04 min 50 s
Técnica: 3D

O curta conta a história de uma jovem deprimida e triste. A estética e os movimentos desta animação lembram os games e as animações 3D dos anos 90, no início da informatização do setor. Com cores saturadas e um som techno, (sinceramente, pessoalmente irritante), o filme passa o desespero da personagem – mas não a sua tristeza.

20 de junho de 2017

Diário animado - Annecy 2017 - Dia I

Nota dos Editores: No ano que Annecy Anuncia que em 2018 teremos uma edição temática sobre o Brasil, o Animação S.A. retira suas teias de aranha para um novo diário animado. Nos próximos Posts, Gordeeff vai falar no nosso diario animado sobre o Festival de Annecy 2017! \o/

Olá pessoal,

Eu sou a Gordeeff e vou, nos próximos dias, tentar compartilhar com vocês um pouco do prestigiado e mais importante festival de animação do mundo: o Festival international du film d'animation d'Annecy, 2017. Clique aqui para conhecer maiores detalhes sobre o Festival.

Bom vou ser rápida, pois tenho que assistir às sessões (lógico!) e tenho muita coisa para contar e comentar. Portanto vou ao que interessa – aos filmes! – e ao longo da semana vou contando sobre outras coisas também.

Bom, ontem foi o primeiro dia para o público. Eu cheguei cedo, tipo 7:30h e já tinha fila e bastante gente para a abertura da recepção do Festival, para a entrega das credenciais – solicitadas previamente, através do site do Festival.  


No meu primeiro dia de festival Assisti a sessão competitiva de Curtas-metragem 1.

Radio Dolores
Direção : Katariina LILLQVIST
País : Finlandia
Ano de produção: 2016
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion com boneco

Stop motion interessante, pois tem como tema uma história real, que aconteceu na Espanha durante a guerra civil, na década de 1930.


Wednesday with Goddard
Direção : Nicolas MÉNARD
País : Reino Unido
Ano de produção: 2016
Duração : 04 min 30 s
Técnica(s) utilizada(s): Desenho sobre papel e 2D

Filme de estética simplificada, faz lembrar os antigos games. Como um bom filme inglês, trabalha bem com o humor negro e a ironia, com um personagem que procura por Deus. 


When Time Moves Faster
Direção : Anna VASOF
País : Austria, Canada
Ano de produção2016
Duração : 06 min 32 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D + outras

É um filme que na verdade é um conjunto de exercícios sobre o movimento. Como um deles, em que a realizadora usou cortinas para animar alguém num balanço.


J'aime les filles
Direção : Diane OBOMSAWIN
País : Canada
Ano de produção: 2016
Duração : 08 min 12 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D

Com assinatura do National Film Board of Canada, esta animação de desenho simples consegue abordar a questão da homossexualidade feminina de forma direta, delicada e ao mesmo tempo, cômica.

Ucieczka - (em português, escape, fuga)
Direção : Jaroslaw KONOPKA
País : Pologne
Ano de produção2017
Duração : 15 mn
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion com bonecos

Filme pesado, violento, como um bom filme da Leste Europeu, sempre fica algo que “não entendemos direito”. Conta uma história pós-apocalíptica de mãe e filho que tentam escapar de uma situação ou lembrança violenta, mas não conseguem. Visualmente é muito forte.


In a Nutshell

Direção : Fabio FRIEDLI
País : Suíça
Ano de produção2017
Duração : 05 min 48 s
Técnica(s) utilizada(s): Stop motion com objetos

O curta utiliza sementes, folhas, noz, e outras coisas para abordar a indiferença à destruição, a apatia em que se vê coisas ruins e sofrimentos, sem dar muita importância. A utilização de objetos, ajudou nesse objetivo.

Double King

Direção : Felix COLGRAVE
País : Austrália
Ano de produção: 2017
Duração : 09 mn 43 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D

Animação curiosa, pois para mim, me faz lembrar a segunda, pois também os personagens têm um visual simplificado e lembram os games antigos. Mas é engraçada e fala, em forma de contos de fadas, sobre a ganância sem sentido. 


Panda
Direção : Shen JIE
País : Chine
Ano de produção: 2016
Duração : 03 min 30 s
Técnica(s) utilizada(s): 2D

Filme chinês bem intrigante. Para os puristas da animação, provavelmente seu visual não agrada, pois tem cores saturadas, que parecem imagens jpgs ou gif., com uma animação simplificada. Mas ele tem seu valor, uma vez que trabalha com metáfora semântica e visual, uma vez que “Panda” é um bichinho fofinho lá da China. Mas ... o filme não é isso. É forte e contundente. Não sei se já tem na Web, mas vale a pena, pelo que ele representa.

Venus
Direção : Sávio LEITE
País : Brésil
Ano de produção: 2017
Duração : 06 min 28 s
Técnica  2D, Rotoscopia

A sessão fechou com a animação do nosso conterrâneo, Sávio Leite. O filme saiu das páginas do livro, Bufólicas (1992), de Hilda Hilst. Como não podia deixar de ser, ele aborda também a questão LGBT, mas coerentemente com o tema, de forma bem mais escrachada, “falicamente” direta e suja. Fique claro que a forma “suja”, é uma questão de estética. E para quem já viu, não tem como não se lembrar do “Deu no Jornal” (2005), de Yanco Del Pino – tem no youtube. Também não entendam que eu estou dizendo que o Sávio imitou o Yanko – é enfadonho, nessa atualidade “democrata”, onde tudo o que se fala, tem que se explicar nos mínimos detalhes, senão você é execrado. Ufa...! Bem, a questão é que os dois filmes apresentam o mesmo visual sujo, coisa que, também, para quem conhece a filmografia do Sávio, sabe que é uma caraterística de seus trabalhos.


Conclusão sobre a sessão: Bem diversa, como filmes de alto nível de animação, proposta e execução. Como sendo a primeira sessão competitiva de curtas, me lava a pensar que o Festival abraça a bandeira de questões entendida como polêmicas – sexo, guerra, violência. Não foi uma sessão em que se sai “leve” da sala de cinema. Ao contrário. Mas isso não a denigre ou a torna menor. É um reflexo de nossos tempos. Vamos aguardar pela maratona – são 5 sessões de curtas e 11 de longas - para termos um panorama final.



Outra sessão que assisti foi o longa-metragem japonê  Hirune Hime – Rêves éveillés ou Ancien & the Magic Tablet

Direção : Kenji KAMIYAMA
País : Japão
Ano de produção: 2017
Duração : 01 h 50
Técnica(s) utilizada(s): 2D

É um filme em uma sessão fora de competição, uma das muitas que Annecy apresenta.

Através da personagem principal, a órfã materna Morikawa, conta a história de sua família. Numa mistura de tempo “real” da história com os sonhos da jovem, o público vai entendendo o que aconteceu e quem era a sua mãe. Com o viés ecologicamente correto, o filme tem um roteiro um pouco confuso – é preciso prestar atenção – mas, exatamente por isso instigante. Como toda animação japonesa, tem o visual característico, com belos backgrounds e o senso do dever, a qualquer custo.

6 de abril de 2017

GNUGRAF 2017 Está Chegando!

Este ano o GNUGRAF acontecerá mais cedo por conta de uma coisa muito legal. Estaremos realizando o evento junto com o Libre Graphics Meetin que um dos maiores eventos internacionais dos desenvolvedores de Software Livre na área de computação gráfica.

Para quem ainda não conhece o GNUGRAF, ele é o primeiro evento de computação gráfica com software livre do Brasil. O evento é totalmente direcionado para profissionais da área de Áudio, Animação, Vídeo, Produção Gráfica e Design de Jogos

Uma das filosofias do GNUGRAF é dar a oportunidade aos profissionais dessas áreas, demostrarem seus trabalhos, interagir com o público e trocar experiências com outros profissionais.

O evento acontecerá dias 21 e 22 de Abril Sexta e Sábado
Local: PUC-Rio R. Marquês de São Vicente, 225 - Gávea, Rio de Janeiro


As Inscrições já estão abertas! http://gnugraf.org/2017/inscricoes/

Segue abaixo a relação de palestrantes confirmados:
















26 de março de 2017

Toy Story – O Divisor de Águas no Cinema de Animação (1ª Parte)

Em 22 de novembro de 1995, estreava o primeiro longa-metragem totalmente animado por computadores. Mas o que fez com que Toy Story se tornasse este filme especial e inesquecível? Seria apenas a nova tecnologia utilizada na produção do longa-metragem? Seria a narrativa apresentada que ia além de tudo já realizado anteriormente?  Seria a unicidade de cada um dos personagens? Nesta nova série de postagens iremos retratar alguns dos diversos motivos que fazem de Toy Story outro grande marco na história do Cinema de Animação.
A introdução de Toy Story
Na verdade, são vários os motivos que fazem de Toy Story um divisor de águas no cinema de animação. Para começar, realmente o filme se destaca por ser o primeiro longa-metragem totalmente realizado com a computação. John Lasseter sabia que a animação computadorizada não era uma mídia nova, mas era uma nova ferramenta dentro da mídia animação. Por isso, era necessário explorar as possibilidades desta ferramenta, mas sempre ciente que a história e os personagens eram os elementos essenciais e que impulsionavam tudo. Mesmo o filme sendo o primeiro longa animado por computador a técnica utilizada era apenas um detalhe secundário para a história que almejavam contar, o maior avanço deveria ser na história.
John Lasseter
John Lasseter e a equipe da Pixar Animation quando iniciaram a produção de Toy Story não queriam um filme sobre conto de fadas, por isso estabeleceram uma série de ideias e fatos proibidos para o desenvolvimento do roteiro. Dentre as exigências e proibições da equipe estavam as músicas e canções, já que não queriam um filme animado musical; buscavam um personagem principal que não fosse maçante e bastante engraçado, os personagens secundários também deveriam seguir esta premissa; não buscavam exatamente um vilão ou a dualidade mocinhos/bandidos e bem/mal.
Na verdade, a equipe buscava principalmente evitar qualquer sinônimo de filmes animados: musical, conto de fadas e infantilidade. John Lasseter tinha uma motivação própria para o desenvolvimento do filme, uma narrativa que pudesse entreter tanto o público infantil quanto os adultos. Por isso, a principal inspiração foi “um filme sobre amigos”, foi a partir desta ideia que foi desenvolvido a premissa do brinquedo velho que é substituído por um brinquedo novo. Situações jamais realizadas antes nos filmes animados.
Tin Toy (1988)
Uma das principais inspirações para o desenvolvimento da história do filme foi o curta-metragem Tin Toy. No curta-metragem da Pixar de 1988, a empresa conseguiu desenvolver com o público a justaposição, mostrando algo já conhecido por eles e logo depois demonstrando um outro ponto de vista do mesmo sujeito, neste caso o bebê. Primeiro vemos o bebê e seu brinquedo, logo depois vemos a perspectiva do brinquedo e como o bebê poderia ser visto como um suposto monstro destruidor para o brinquedo. O personagem Tin Toy foi a inspiração para o desenvolvimento do conceito de os brinquedos terem vida e a amizade entre dois deles.
Os primeiros esboços de Woody
Nos primeiros esboços da história o personagem principal era chamado de Tinny e estava de férias com sua criança e acaba sendo esquecido por acidente. Tinny é encontrado por um catador de lixo e acaba sendo jogado na caçamba do caminhão de lixo aonde encontra o outro boneco, um ventríloquo antigo. Os brinquedos decidem ficar juntos e no final da história iriam terminar em uma escola infantil, considerada o paraíso dos brinquedos, local aonde nunca são perdidos ou esquecidos pelos donos. Percebemos que este primeiro esboço do filme acaba sendo aproveitado posteriormente no segundo filme para explicar o abandono e o trauma da vaqueira Jessy, e o ambiente perfeito da creche Sunnyside que depois descobrimos que ela é comandada pelo tirano Lotso, em Toy Story 3.
O quarto de Andy
Logo depois, a trama passou a ser desenvolvida em um quarto de uma criança, semelhante aos contornos que conhecemos: o garoto ganha um brinquedo novo como presente de aniversário e o brinquedo é levado para o quarto interagindo com os demais brinquedos antigos.  Contudo, para este novo esboço não fazia sentido que Tin Toy, um brinquedo antiquado virasse o favorito do garoto. Por isto era necessário a busca de um novo brinquedo que representasse o novo, o antigo e os personagens secundários.
Durante o processo de construção da história a equipe realizou uma visita à uma loja de brinquedos e encheram o carrinho com diversos brinquedos. Inclusive foi durante a esta visita que encontraram os soldadinhos de plástico dentro de balde. Neste processo de escolha os responsáveis só escolheram brinquedos existentes que já haviam passado por uma ou duas gerações e que permaneceram. Durante o passeio na loja a equipe já imaginava os brinquedos vivos, como seres humanos dotados da capacidade de raciocínio. Com base nesta afirmação percebemos que o antropomorfismo (animais e objetos representados com características humanas) foi idealizado antes mesmo da própria construção dos personagens.
Syd e And
Se a loja de brinquedo foi uma inspiração essencial para os personagens antropomórficos, os personagens humanos, especialmente Andy e Sid, tiveram inspiração embasada nos membros da própria equipe da Pixar. Enquanto alguns destruíam seus brinquedos, outros guardavam com bastante zelo durante anos. Semelhante ao personagem Sid, alguns dos animados da Pixar, quando crianças, faziam experiências com seus brinquedos, só para observar como o objeto ficava após ser derretido com a ação do fogo. John Lasseter, era um dos que zelava bastante por seus brinquedos, a ideia de um brinquedo velho como personagem Woody foi baseada em um dos brinquedos que Lasseter guardava desde a sua infância.
Buzz Lightyear e Woody
Woody e Buzz, os personagens principais de Toy Story, passaram por um extenso processo de construção e modificações, tudo isto para que ambos coincidissem tanto com a narrativa quanto com o visual e design de cada um deles. O personagem Buzz precisava ser um brinquedo original, por isto a Pixar criou um brinquedo próprio. Para a construção do personagem, os criadores examinaram os seus brinquedos favoritos e foram incorporando tudo que gostavam em um único brinquedo. Buzz precisava ser o brinquedo que todo menino gostaria de ter.
Os primeiros esboços de Buzz Lightyear
Antes de ter o nome que conhecemos hoje, o personagem teve diversos nomes incomuns como Lunar Lerry, que depois virou Tempus de Morph e por fim, virou o Buzz Lightyear. O nome Buzz Lightyear foi inspirado no nome do astronauta Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na lua. Algumas das características da personalidade do personagem Buzz Lightyear foram dadas pelo dublador Tim Allem, inclusive o lado mais sensível do personagem. Antes da dublagem, Buzz Lightyer foi concebido semelhante a um super-herói, foi o dublador Tim Allem que deu um tom mais realista ao personagem ficando mais parecido com um policial, como um patrulheiro espacial.
John Lasseter e o seu boneco do Gasparzinho
O personagem Woody foi baseado em um Gasparzinho com corpo de pelúcia, rosto de plástico e com uma corda de puxar em suas costas, que diz com uma voz esganiçada: “Posso ficar com você. Sou um fantasma camarada”. Os primeiros esboços de Woody eram um boneco de ventríloquo com cartola e smoking. Ele deveria ser o brinquedo velho, mas esta construção visual não condizia com a intenção. Por isto, sugeriram um boneco caubói, que fazia jus a rivalidade dos personagens Buzz representando a corrida espacial e Woody referente ao anacrônico velho Oeste. Woody durante o desenvolvimento do roteiro foi idealizado como boneco ventríloquo caubói, um personagem cômico e sarcástico, mas acabou sendo apenas o boneco caubói de corda repleto de comentários irônicos que conhecemos.
Durante os testes iniciais com Buzz e Woody, a equipe constantemente se questionava se o modelo, a movimentação e o comportamento dos personagens estavam condizente com a personalidade dos personagens. Foram realizados diversos testes, porque a Pixar tinha o receio que a plateia não ficaria sentada durante os 70 minutos de uma animação digital. Este medo da Pixar foi semelhante ao medo do próprio Disney durante a realização de Branca de Neve e os sete anões (1937) que se questionava se o público conseguiria assistir um longa-metragem totalmente animado.
Rex e sua aparência de plástico barato que reflete na sua personalidade
Não foram apenas Buzz e Woody que tiveram este cuidado em suas construções visual e psicológica. Mesmo os personagens secundários terem sido baseados em brinquedos reais conforme a visita à loja de brinquedo, eles foram estudados pensando na qualidade do produto e como isto seria combinado a sua personalidade. No caso do personagem Rex, eles encontraram vários dinossauros feitos de plástico barato, com braços curto e pintura malfeita. Como um brinquedo com estas qualidades deveria ser o carnívoro poderoso? Por isto, o personagem Rex foi criado indo contra os estereótipos dos filmes de dinossauro, assumindo uma personalidade insegura e neurótica.
Olha eu sou Picasso!
No caso do personagem Senhor Cabeça de Batata, sua personalidade rabugenta vem exatamente da revolta de pensar que você o tempo todo está perdendo seus traços faciais. Os soldadinhos verdes, brinquedos bastante conhecidos pelos animadores, tentaram manter as características básicas, principalmente os pés presos às bases. Para esta característica os animadores prenderam tênis velhos à uma prancha e se filmaram enquanto tentavam andar com a armação. Mas foi graças a esta experiência e análise que eles conseguiram animar os soldadinhos verdes de modo convincente.

Na próxima postagem desta série iremos abordar um pouco das dificuldades encontradas na realização de Toy Story, inclusive com a possibilidade de cancelamento do longa-metragem.