Nas últimas semanas conhecemos um pouco mais do processo de
produção e curiosidades que fizeram do primeiro longa-metragem do estúdio
Disney – “Branca de Neve e os sete anões” um marco na história do cinema de
animação. Walt Disney em diversos momentos do filme se questionava sobre a
credibilidade das cenas para o público e por isso a produção de algumas delas
demorava mais que o esperado.
Branca de Neve e o Caçador
A sequência em que o caçador tenta exterminar a inocente Branca de
Neve exigiu mais de seis meses de uma preparação minuciosa feita pela equipe
responsável. Para ela foi necessária toda a competência possível para que um
desenho com características humanas pudesse tirar a vida de outro desenho. De
que forma o público reagiria? Preocupariam com a personagem ou acharia burlesca
essa situação? Elementos esses inéditos para o cinema de animação, que somente
foram possíveis graças aos princípios da animação e o storyboard, já que o mesmo serviu para construir e visualizar toda
a técnica cinematografia e a montagem necessária para esta cena. O historiador
John Canemaker, afirma que esta cena, especificamente, teve uma montagem
seguindo o estilo do cineasta D. W. Griffith para manipular as emoções e as
percepções da plateia.
A câmera não se prende a protagonista cantante
Outro destaque do filme marco é a trilha musical gravada por uma
orquestra de 80 músicos. As oito canções do filme ganharam versões em diversas
outras línguas, e tornaram-se popular em todo o mundo. Além disso, em quase todas
as cenas musicais do filme, Disney nos mostra uma pequena história visual sobre
as diversas personalidades da cena e situações prosaicas, enquanto a música é
cantada. Método que se tornou comum nos filmes e roteiros da Disney, no qual, a
câmera não se prende à personagem cantante. Enquanto a canção é iniciada, a
animação nos fornece estes belos roteiros visuais. A intenção deste método é
dar maior importância ao visual e não ao musical.
Eu vou pra casa agora eu vou!
A sequência da Mina possui uma das trilhas sonoras mais marcantes
do filme. A canção “Eu vou” (Heigh-Ho) ganhou espaço fora da banda sonora do
filme é está presente nas cantigas de rodas dos institutos educacionais para
crianças. Esta canção tornou-se um marco nas lembranças infantis de todos nós,
quem nunca cantou os versos da cantiga de “Eu vou”?
As diversas referências cinematográficas dos clássicos do cinema de terror
Os desenhos e layout de cenas da parte do calabouço da Rainha são extraordinariamente
bem trabalhados, fazendo inclusive referência a clássicos do cinema de terror
como: Frankenstein, O Homem Invisível e a Noiva de Frankenstein. E também da
vanguarda expressionista alemã da década de 20 como Nosferatu. A cena é
carregada de elementos sombrios como ratos, teias de aranhas, caixões,
caveiras, corvos e sombras para evidenciar a transformação da Rainha em uma
Bruxa velha, feia e carrancuda.
As bochechas maquiadas da Princesa
A
cor foi também um dos aspectos que recebeu todo cuidado e cautela no filme. Se
tratando do primeiro longa-metragem animado e colorido, qual seria a reação do
público quanto à cor? Tanto que optaram por cores neutras em tons pastéis. Foram
diversos meses de pesquisas para chegar aos tons utilizado para colorir os
personagens e cenários do filme.
Ainda
sobre a colorização, observando as bochechas levemente rosadas de Branca de
Neve, acha-se que é um efeito da tinta escolhida para a colorização do filme.
Porém, este é um dos segredos da produção onde foi utilizada maquiagem
verdadeira – ruge – aplicada em cada frame do filme para dar cor às bochechas
da princesa. Trabalho feito pelas mulheres responsáveis pela colorização e que
foi devidamente aprovada e apreciada por Walt Disney.
Era uma vez...
A narrativa de “Branca de Neve e os sete anões” ostenta, desde o
“Era uma vez...” inicial até o “viveram felizes para sempre”, um conto com um
tema clássico, performances emocionantes e divertidas, em um desenho rico em
detalhes, de uma qualidade incomparável e uma trilha sonora memorável. Sendo o
resultado definitivo do desenvolvimento técnico e narrativo do cinema de
animação. Com o devido reconhecimento como arte e servindo de parâmetros para
outras produções do gênero. Foi a produção pioneira no gênero em Hollywood,
provando aos muitos céticos da época que um longa-metragem de animação era um
gênero de cinema viável e que também era emocionante para o público. Além de
mostrar aos críticos que a animação era um meio indiscutível de expressão
artística do mais alto nível.
Todo o filme, na verdade, teve a aplicação de ingredientes certos
(roteiro, técnicas, direção, fotografia, montagem e trilha sonora) que foram
precisa e cuidadosamente empregados. E o mestre-cuca desta receita é Walt
Disney, que nos mostra que apenas um momento de inspiração não é o suficiente
para construir uma obra de arte. Para constituir arte é preciso muito esforço e
dedicação, principalmente para a animação, que revela um trabalho árduo na
construção de seus filmes.
Making of de "Branca de Neve"
E foi graças à “Branca de Neve e os sete anões” que hoje, as
animações podem ter este destaque na mídia, por isso, a intitulam de “Aquela
que começou tudo”. Mais que um marco para história da animação “Branca de Neve
e os sete anões” levou a emoção próspera para as plateias que vivenciavam uma
era de “Grande Depressão”. O público encontrou nas personagens animadas, que
pareciam reais, bidimensionais e dotadas de personalidades, um mundo colorido,
diferente da realidade cinza que até então presenciavam. As emoções se
mesclavam entre o horror e o medo que a Rainha Bruxa causava e a alegria e
diversão que os anões propiciavam. A Bruxa acabou se tornando ícone de maldade
universal, e os anões habitam e enfeitam os jardins das residências com seus
carismas. As músicas não ficaram apenas nos assobios e no cantarolar dos
espectadores, após a sessão do filme na época. As canções ganharam versões em
várias outras línguas, tornando-se populares e clássicas em todo o mundo. Ainda
hoje, quase oito décadas após sua estreia nos cinemas, o filme cativa tanto as
crianças quanto aos adultos.
Lá no nosso estúdio temos a certeza de uma coisa. Todas as pessoas
no mundo foram crianças um dia. Por isso quando planejamos um novo filme não
pensamos em adultos ou crianças, mas naquela bondade e pureza bem dentro de
cada um de nós que o mundo pode ter feito nos esquecer e que talvez nossos
filmes possam ajudar a trazer de volta – Walt Disney
O sucesso de “Branca de Neve e os sete anões”, permitiu que o
estúdio Disney continuasse explorando novas tecnologias e técnicas narrativas
na história e na arte da animação. O que de certa forma, favoreceu uma
liberdade para inovar e construir novas bases para os longas-metragens
produzidos até hoje, constituindo novos marcos e prêmios para seu estúdio. Walt
Disney ao produzir “Branca de Neve e os sete anões” criou um filme excelente,
uma obra de arte que transcendeu o tempo e auferiu seu lugar entre os grandes
clássicos.