24 de maio de 2015

História do Cinema de Animação – Importantes Invenções Técnicas (10ª Parte)

No último artigo conhecemos um pouco do processo que possibilitou a industrialização do cinema de animação. Inclusive, foi nesse processo que surgem as primeiras séries animadas. Durante esse excitante momento, duas grandes descobertas são anunciadas, causando grande transformação no processo industrial: a rotoscopia e o desenho sobre folhas de celuloide transparente (mais tarde substituído pelo acetato), descobertas de grande valor técnico que, além de facilitarem o desenvolvimento industrial da animação, contribuíram para o seu reconhecimento artístico.

Ilustração do uso das folhas de acetato

O acetato (ou folhas de acetato) foi patenteado por Earl Hurd em dezembro de 1914, um material translúcido e transparente na qual são traçados os desenhos dos artistas animadores. Ele deu ao animador a possibilidade artística de criar personagens sem a preocupação impendente com os cenários. Esta liberdade possibilitou um trabalho mais atencioso do artista tanto para os personagens quanto para os cenários. O acetato viabilizou a utilização de planos entre os personagens e os cenários e intensificou a ilusão de profundidade. O cerne do seu o uso, as camadas, é aproveitado até hoje em outros meios, como no software para edição de imagens Adobe Photoshop, o qual utiliza-se de um recurso de organização em camadas (Layers).

Ilustração integrante do pedido de patente do processo da rotoscopia, Fleisher Studio

Em 1915, a técnica de animação conhecida por Rostoscopia é desenvolvida pelos irmãos Max e Dave Fleischer. Os irmãos Fleischer criaram um aparelho chamado rotoscópio, que tinha como objetivo obter movimentos realistas no desenho, dando uma maior realidade às personagens animadas com características humanas, e tornar a produção de desenhos mais rápida. A técnica consistia em captar através de uma câmera uma sequência de imagens de uma referência humana e, posteriormente, cada frame dessa sequência era exibido numa prancha de vidro que orientava o animador na construção de um personagem animado.

O palhaço Koko da série Out of the inkwell (1919)

 O primeiro teste do processo da rotoscopia foi realizado com Dave vestindo uma roupa preta de palhaço que contrastava com o branco do papel. Este teste, mais tarde seria a inspiração para a criação do célebre personagem dos Irmãos Fleischer – o palhaço Koko – que estreou com o primeiro filme da série intitulado “Out of the inkwell”, em 1919. A rotoscopia permitiu para a animação uma suavidade nos movimentos das personagens, assim como viabilizou a criação de uma série de efeitos especiais, dando uma maior amplitude nos movimentos dos filmes de ação ao vivo.

Embora tenha contribuído enormemente para facilitar o processo de produção, a rotoscopia, no início, era utilizada apenas para a produção de filmes para o exército americano e, somente depois da guerra, foi coligada aos estúdios de animações. Num primeiro instante, lendo as referências históricas da rotoscopia, tem-se a aleivosa impressão que era uma técnica amplamente empregada, assim como foi o acetato.

Motion Capture a evolução da Rotoscopia

A invenção dos irmãos Fleischer pode ser comparada com a técnica de MoCap (motion capture), que, através de sensores, captura o movimento de pessoas e animais e depois transpõe para o computador. Ela é bastante utilizada atualmente em filmes de ação ao vivo. Pode-se dizer, que o Motion Capture é a evolução da rostoscopia inventada no início do século XX.  Como exemplos, podemos citar o personagem Gollum da trilogia “O Senhor dos Anéis”, adaptação da obra homônima de Tolkien, ou até mesmo, os personagens interpretados por Tom Hanks na animação “Expresso Polar”.

O Estúdio Disney aproveitou da Rotoscopia para a construção de personagens 

O rotoscópio permitiu a idealização de personagens com criação física e psicológica. As histórias passaram a ser construídas enfocadas no humor próprio e em movimentos exagerados. Essa possibilidade de narrativa criou certa individualização do personagem que gerou uma produção em massa, baseada em ações engraçadas e apelo visual.

Dave  Fleisher como o palhaço Koko

Com advento dessas facilidades no processo de animação, iniciou-se uma produção em série, surgiram diversas séries, porém poucas novidades narrativas. As produções em massa contribuíram para a perda da qualidade e uma desprovida caracterização dos mesmos e, posteriormente, a animação passou a ser alvo de inúmeras críticas. Na próxima semana iremos conhecer um personagem de suma importância para a história do cinema de animação.