por Gabriel Cruz e Luiz Felipe Vasques
No próximo dia 22 de Janeiro, algumas salas do Rio de Janeiro, São Paulo, Ribeirão Preto e Fortaleza finalmente receberão o longa metragem brasileiro "Até que a Sbornia nos Separe".
O longa, dirigido por Otto Guerra e Enio Torresan Jr., é livremente inspirado em um show musical chamado Tangos e Tragédias, da dupla gaúcha Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky (que infelizmente veio a falecer em 7 de Fevereiro de 2014), que encarnam dois sobreviventes da Sbórnia, nação insular presa ao continente sul-americano por um istmo – e isso é importante – que, devido a sucessivas explosões sucessivas explosões sucessivas explosões nucleares descontroladas, rompe a ligação e sai à deriva pelos oceanos afora, às vezes avistada por marinheiros ao redor do mundo. Cabe a aos dois, vestindo os personagens que são também os protagonistas da animação, contarem as tragédias e costumes de seu antigo país, através de canções nostálgicas e tragicômicas.
E este é o show: a animação conta como era a vida em Sbórnia, até que a vida no continente conseguiu chegar à ilha pelo istmo, após um muro que os isolava cedeu. A Sbórnia, ciosa de seus costumes e hábitos próprios, sofre com a chegada dos costumes e com a ambição dos recém-chegados. Aquilo que é revelado nas canções do grupo torna-se narrativa, e o filme é excelente também nesse aspecto: “baseado em fatos surreais”, o clima igualmente surreal permeia toda a projeção.
O visual do filme é um show de referências, prendendo-se aos anos 1910 e arredores, nas roupas, prédios e automóveis, com um tom todo próprio, especialmente na própria Sbórnia, que lembra uma Rússia pré-revolução. Obra de cuidado e esmero, em todas as etapas apresentadas: a trilha ganha um destaque aqui, baseada na trilha do show de Tangos e Tragédias, onde valeu cada centavo do investimento.
Junto com a genialidade de Otto Guerra, a experiência de Enio Torresan Jr. (com trabalhos na Nickelodeon e Dreamworks em séries como Bob Esponja e filmes como Bee Movie, Kung Fu Panda e Turbo) foi essencial no desenvolvimento do storyboard do filme. "Até que a Sbornia nos Separe" tem um timing excelente, não cansa, empolga e diverte o espectador. Possui um equilibrio maravilhoso entre o trabalho autoral e o comercial.
Os atores que deram suas vozes também são um show a parte. Além dos próprios Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky que fizeram os protagonistas do filme, a participação de Otto Guerra, André Abujamra, Arlete Salles e Fernanda Takai deram um excelente toque aos outros personagens da produção.
Por fim, uma animação tradicionalissima primorosa, e que apesar de feita no papel e lápis, foi muito bem planejada para a o 3D Estereoscópico.
Em suma, "Até que a Sbornia nos Separe" é um filme que nos enche de orgulho. Daqueles filmes que você sai do Cinema sem nenhum "mas" ou "porém". É maravilhoso do início ao fim e demonstra claramente o resultado da maturidade da animação brasileira. Merece ter suas salas lotadas.